segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Nuno Júdice


Lembro-me agora que tenho de marcar um encontro contigo, num lugar em que ambos nos possamos falar, de fato, sem que nenhuma das ocorrências da vida venha interferir no que temos para nos dizer. Muitas vezes me lembrei que esse lugar podia ser, até, um lugar sem nada de especial, como um canto de café, em frente de um espelho que poderia servir até de pretexto para refletir a alma, a impressão da tarde, o último estertor do dia antes de nos despedirmos, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É que o amor nem sempre é uma palavra de uso, aquela que permite a passagem à comunicação mais exata de dois seres, a não ser que nos fale, de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma troca de almas fosse possível neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e me peças: "Vem comigo!", e devo dizer-te que muitas vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde, isto é, a porta tinha-se fechado até outro dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos para dizer uma ao outro: a confissão mais exata, que é também a mais absurda, de um sentimento; e, por trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia seguinte, como se o amor, de fato, pudesse mudar as cores do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

2 comentários:

silvioafonso disse...

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Por que será que não te nego
um abraço, morena? Por que a
ti negar um beijo se a ti eu
dou a minha vida, se duvidas?
Dou-te o meu sangue para cor-
rer em tuas veias...

Estou seguindo o seu blog.
Atreva-se e siga o meu.

silvioafonso





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Francisco disse...

Ao ler este Post, ate pensei que me lia a mente, pois neste momento da minha vida revivo muito essa questao, talvez o ja tenha percebido, ao seguir o meu Blog, e obrigado,e um gosto ter sempre alguem que siga o que escrevemos, nada e ao acaso, e realmente o que me faz escrever e mesmo o Amor.

Abrazos
Francisco