sábado, 14 de junho de 2008

Paul Válery

Sou mutante. Não anseio a majestades cristalizadas em palavras que não voltam atrás. Eu volto palavras, gestos e sentimentos. Mudam tempos, momentos, situações, mundo... Por que não mudo eu? Livrai-me do engessamento burro da prepotência! Peço desculpas e me sinto aliviado. Se o outro vai desculpar ou não depende do grau de irredutibilidade dele. Aí já não é comigo. Repensar é consertar. "Eu não sou sempre da minha opinião." Considero a sua e, se for o caso, reconsidero a minha.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Dia dos namorados

Para quem não tem namorado (trecho) - Fabrício Carpinejar

(...) O encalhado quando caça também não acha seu par. Não é por ausência de vontade, talvez seja o excesso, a ansiedade, a pressão em resolver sua vida naquele instante daquele jeito (Encalhado mesmo é aquele que consulta a data de validade da camisinha).

Sente-se duplamente negado: por si e pelos outros. Parte da concepção de que os outros estão informados de sua abstinência e jejum. E o terrível é que a maioria realmente desconfia. O encalhado respira a falta de sexo, já pede desculpas com as sobrancelhas. Subentende que é um fracassado, camuflando o estigma da mão solitária com a protuberância de anéis. Desabafa no mais sutil cumprimento. Age como eu farejando a chave ou fugindo do policiamento. Com idéias fixas. Modelando a memória para diminuir a culpa. Censurando-se por ter perdido algo (sua idade, sua fantasia, sua ingenuidade).

Não dançará à vontade ou participará de discussões, tão coagido a eleger sua cara-metade. Não irá se divertir; converteu o namoro num pré-requisito do prazer. O encalhado não conversa, investiga. Não flerta, conduz entrevistas de candidatos. Pergunta o que exigiria anos de observação. Encurralado pela falta de tempo que é ter todo o tempo do mundo.

Aos amantes solteiros, pense em mim no Dia dos Namorados antes de chorar emprestado. Ao desistirem de procurar, é certo que vão encontrar.

Dia dos namorados

Martha Medeiros - Absolvendo o amorDuas historinhas que envolvem o amor.

A primeira: uma mulher namora um príncipe encantado por três meses e então descobre que ele não é príncipe coisa nenhuma, e sim um bobalhão que não soube equalizar as diferenças e sumiu no mundo sem se despedir. Mais um, segundo ela. São todos assim, os homens. Ela resmunga: "não dá mesmo para acreditar no amor".

Peraí. Por que o amor tem que levar a culpa desses desencontros? Que a princesa não acredite mais no Pedro, no Paulo ou no Pafúncio, vá lá, mas responsabilizar o amor pelo fim de uma relação e a partir daí não querer mais se envolver com ninguém é preguiça de continuar tentando. Não foi o amor que caiu fora. Aliás, ele talvez nem tenha entrado nessa história. Quando entra, é para contribuir, para apimentar, para fazer feliz. Se o relacionamento não dá certo, ou dá certo por um determinado tempo e depois acaba, o amor merece um aperto de mãos, um muito obrigada e até a próxima. Fique com o cartão dele, você vai chamá-lo de novo, vai precisar de seus serviços, esteja certa. Dispense namorados, mas não dispense o amor, porque este estará sempre a postos. Viver sem amor por uns tempos é normal. Viver sem amor pra sempre é azar ou incompetência. Só não pode ser uma escolha, nunca. Escolher não amar é suicídio simbólico, é não ter razão pra existir. Não adianta querer compensar com amor pelos amigos, filhos e cachorros, não é com eles que você fica de mãos dadas no cinema.

Segunda história. Uma mulher ama profundamente um homem e é por ele amada da mesma forma, os dois dormem embolados e se gostam de uma maneira quase indecente, de tão certo que dá a relação. Tudo funciona como um relógio que ora atrasa, ora adianta, mas não pára, um tic-tac excitante que ela não divulga para as amigas, não espalha, adivinhe por quê: culpa. Morre de culpa desse amor que funciona, desse amor que é desacreditado em matérias de jornal e em pesquisas, desse amor que deram como morto e enterrado, mas que na casa dela vive cheio de gás e que ameaça ser eterno. Culpa, a pobre mulher sente, e mais: sente medo. Nem sabe de quê, mas sente. Medo de não merecê-lo, medo de perdê-lo, medo do dia seguinte, medo das estatísticas, medo dos exemplos das outras mulheres, daquela mulher lá do início do texto, por exemplo, que se iludiu com mais um bobalhão que desapareceu sem deixar rastro - ou bobalhona foi ela, nunca se sabe. Mas o fato é que terminou o amor da mulher lá do início do texto, enquanto que essa mulher de fim de texto, essa criatura feliz e apaixonada, é ao mesmo tempo infeliz e temerosa porque teve a sorte de ser premiada com aquilo que tanta gente busca e pouco encontra: o tal amor como se sonha.

Uma mulher infeliz por ter amor de menos, outra infeliz por ter amor demais, e o amor injustamente crucificado por ambas. Coitado do amor, é sempre acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplesmente por ter acontecido em nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí é o luxo supremo. Qualquer amor - até aqueles que a gente inventa - merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo, caríssimos, não é ele, somos nós.

Dia dos namorados

Roberto Shinyashiki - Amor

O amor é uma energia dirigida à vida. Quando alguém está apaixonado, sua aura ilumina-se, sua criatividade atinge o auge e, principalmente, a sensação de estar vivo toma conta do seu coração.

Os Dâmocles confundem medo de perder a pessoa amada com amor propriamente dito. O medo nasce da insegurança,da pobreza de espírito, enquanto o amor nasce da generosidade da alma,da nobreza de caráter.

Uma declaração de amor pode ser considerada expressão de afeto, mas muitas vezes, escondem uma hábil manipulação para manter o controle. É uma atividade egoísta que pode resultar em dependência e, e nos casos mais graves, anulação da personalidade do outro, filho, pai, mãe ou companheiro.

O medo de ser abandonado, de ser traído e da solidão cria um indivíduo possessivo, cujo desejo é moldar os outros à sua semelhança.

O Amor, ao contrário, desperta o desejo de crescer juntos, fornece coragem pra superar os bloqueios internos e, principalmente para mergulhar na vida.

A necessidade de segurança é a bíblia dos devotos da Dâmocles. Precisam saber que a pessoa amada está sempre perto, feliz ou não. Nas relações sexuais usam, ao mesmo tempo, diversos tipos de contraceptivos - Pílula, preservativo, tabelinha, e ainda assim se preocupam com uma possível gravidez. Como vivem sempre assustados, tendem a unir-se a alguém que lhes dê segurança.

Mas nem isso elimina sua desconfiança e seu ciúme. No entanto, são capazes de grandes gestos românticos, mas por medo de perder a pessoa amada do que pela vontade de seduzir. Somente quando os Dâmocles olham para a espada em cima de suas cabeças é que se dão conta do quanto são capazes de amar. A partir daí passam a se orientar pelo amor, e não mais pela segurança.

É quando acontece em suas vidas o maior de todos os milagres: descobrem que a verdadeira segurança esta baseada em sua capacidade de amar, e não de se proteger.



quinta-feira, 5 de junho de 2008

Na Sua Estante - Pitty

Te vejo errando e isso não é pecado,
Exceto quando faz outra pessoa sangrar
Te vejo sonhando e isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar
Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar ao menos mande notícias
Você acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu... (2x)

Você tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido
Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu... (2x)

Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar a minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam

E essa abstinência uma hora vai passar...

O desejo sustenta fantasias impossíveis...

Segundo Lacan, as fantasias precisam ser irrealistas, pois no momento em que tivermos o que procuramos, desistiremos, não vamos mais querer o ser procurado. Para poder continuar existindo o desejo deve ter seu objeto eternamente ausente. Não é aquilo que queremos, mas sim a fantasia daquilo que queremos. Portanto, o desejo sustenta fantasias impossíveis.
Pascal disse que somos verdadeiramente felizes somente quando sonhamos acordados com a felicidade futura. Assim, cuidado com se deseja, pois não vamos querer quando conseguirmos. Para Lacan, viver pelos desejos nunca vai trazer a felicidade. O significado de ser totalmente humano é se esforçar para viver por idéias e ideais e não viver a vida em função daquilo que ganhamos, mas pelos pequenos momentos que vivemos durante a busca daquilo que queremos.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Adaptação de pensamentos de Goethe e Paul Valéry

Do que adianta você ter essa alma colada aos ossos, dessa carne errada.
Sem o risco a vida não vale à pena.
Se você não quiser arriscar, não comece.
Isso quer dizer: e se você arriscar e perder namorada, esposa, filhos, emprego, a cabeça e até a alma?
Mas é sempre melhor isso, do que olhar para todas essas outras pessoas que nunca acertam, porque nunca se propõem ao risco.

Ei-los em pé

Jean-Paul Sartre

O que vocês esperavam que acontecesse quando tiraram a mordaça que tapava essas bocas negras?
Esperavam que elas lhes lançassem louvores? E essas cabeças que seus avós e seus pais haviam dobrado à força até o chão?
O que esperavam? Que se reerguessem com adoração nos olhos?
Ei-los em pé. Homens que nos olham. Ei-los em pé. Faço votos para que vocês sintam como eu a comoção de ser visto.
Hoje, esses homens pretos nos miram e nosso olhar re-entra em nossos olhos. Tochas negras iluminam o mundo e nossas cabeças brancas não passam de pequenas luminárias balançadas pelo vento.

O jogo

Sílvio Valentin Liorbano

Vamos decidir nos pênaltis
O analfabetismo
A falta de energia
A votação do senado
Os rumos da nação
E tudo que empata

Vamos decidir nos pênaltis
As armas do embate
O pleito eleitoral
As jogadas do futebol.

Vamos privatizar os sonhos
Banir de vez nossas paixões
Exorcizar os demônios
Num grito de liberdade
E não de gol.

Utopia

Eduardo GaleanoEu dou um passo, ela dá dois passos.
Eu dou dois passos, ela dá quatro passos.
Eu dou quatro passos, ela dá oito passos.
Para isso serve a utopia, para eu seguir caminhando.

Canto Nietzschiano

Gustavo de Castro

E aquele, entre os homens, que não quer voltar ao pó,
É preciso antes que comece a cantar em qualquer canto um canto de dor.

E aquele, entre os homens, que não quer gestar intrigas,
É preciso antes que aprenda a calar em todas as línguas.

E aquele, entre os homens, que não quer morrer de solidão,
É preciso antes que comece a beijar todas as bocas.

E aquele, entre os homens, que não quer morrer sem verdade,
É preciso antes que aprenda a acreditar em todas elas.

E aquele, entre os homens, que não quer morrer de tédio,
É preciso antes que aprenda a ser todos de todas as maneiras.

E aquele, entre os homens, que quer permanecer íntegro,
É preciso antes que saiba silenciar todas as falas.

E aquele, entre os homens, que quer permanecer sensível,
É preciso antes que saiba sentir tudo de todas as maneiras.

E aquele, entre os homens, que quer permanecer são,
É preciso antes que saiba ter todas as loucuras.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Eros e Psiquê

Fernando Pessoa

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

"A pior parte de existir
É se enganar, criar um intuito

Impossível de se compreender
Forçar o meu eu a viver fora do meu.

Deixar de me recriar e compreender

Tirar a minha vida."

(Bárbara - aluna do CEM 02 - Gama)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Fabrício Carpinejar


Levante a mão quem não quer um amor egoísta, avassalador, que ultrapasse os limites? Um amor que não peça licença, que não fale bom-dia? Um amor que esqueça o passado e dê de ombros ao que possa vir? Um amor todo tremor e insuficiência? Um amor que deixe idiota e torne o corpo inteligente? Quem não quer, hein? Um amor incondicional, absurdo e ilegível aos colegas? Um amor que não faça pensar em outra coisa além dele?

Não invejo esse amor. Desconfio desse amor. Amor não é privação. Confortável amar uma mulher isolada de seu contexto. Levá-la para um lugar longe do incômodo, uma praia ou uma serra, enchê-la de mimos e palavras fortes. Sussurrar presságios e fugir com o vento. Não preciso me isolar para amar, amo para me reunir.

É confortável ser amante sem a necessidade de permanecer para conversar. Sem ouvir. Sem a delicadeza da distância. Sem o respeito da saudade.

Árduo e puro é ser amante dia-a-dia, no meio das tarefas e pressa do emprego, no meio das contas e do fim do mês, e encontrar um jeito de não amaldiçoar a rotina. Ser gentil apesar das expressões cortadas e do apuro.

Um amante que fecha as portas dos armários e abre as portas de casa. Um amante que fica para fechar o vestido que abriu.

Confortável amar sem convívio com os defeitos. Sem as circunstâncias enfraquecendo a vontade. Com o tempo livre. Com o desejo livre.

Sou contra lua-de-mel. Sou favorável ao mel do pão, terno e repetitivo, que doura o miolo como um batom. Que gruda a língua no céu da boca. Os lábios abelhando asas pelo rosto.

Não concordo que no amor tudo é permitido. Amor não quebra a regra, o amor cria as regras. Não concordo com o amor que joga tudo pela janela, o amor tem paciência, sobe as escadas e bate a campainha. Se não tiver ninguém, espera. O amor é simples e óbvio, que não sobra muito para contar depois dele.

O amor não é para ser desmemoriado. Tem passado. Tem álbum de fotografias. Tem cartas antigas. Tem letra emendada. Tem a si mesmo.

Amor nunca dirá: que os outros se danem. Ele se importa com os outros dentro de seu amor. Até com os outros que não chegaram a tempo de vê-lo amando. Vai se importar com a opinião dos pais, dos avós e, inclusive, dos mortos.

Amor não demite, não despeja, não exclui. Amor é incluir a vida da mulher no amor. Seus filhos. Sua falta de filhos. Seu trabalho. Seus livros. Seus hábitos. Seus animais. Seus desaforos. Seus desafetos. Suas dificuldades de adaptação. Seus problemas. Suas reclamações. É amar o que não se amava, aprender a amar as verduras no prato.

Não confie nisso que chamam de paixão. Não é amor. É uma maneira certa de nunca chegar a ele.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Os Três Mal-Amados

João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto, mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Semelhante

Silvana Guimarães


Não se melindre não.
Esse jeito novo meu,
foi moda que eu inventei.
Pra esconder essa dor nova, novíssima,
que inaugurei ontem, lá pelas seis da tarde,
quando todos os anjos rezavam a ave-maria,
o sol ainda esparramava luz no mundo,
a brisa fazia cócegas nas minhas partes todas
e o vento bateu - pra sempre - aquela porta.

Não se engane comigo.
Afora essa mania boba de estar sempre comovida,
(e ficar espiando a ternura onde ninguém vai olhar)
tenho a mesma sarça ardente aqui dentro
- ardente e obscena.

Vê: sou a mesma flor.
Que não se cheira.

Madrugada

(...)Tudo dorme. Eu, no entanto, olho o espaço sombrio,
Pensando em ti, ó doce imagem adorada!...(...)



Roland Barthes

Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade. Sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.

Fernando Pessoa

A beleza de um corpo nu só o sentem as raças vestidas.

Silvana Guimarães

Relevo


Atrás do morro,

morro.

E é de amor.

*******

Sua

luz

minha

luz

sina

domingo, 4 de maio de 2008

Elisa Lucinda, da série “Eternidades Cotidianas”

“Euteamo” e suas estréias


Te amo mais uma vez esta noite

talvez nunca tenha cometido “euteamo”

assim tantas seguidas vezes, mal cabendo no fato

e no parco dos dias.

Não importa, importa é a alegria límpida

de poder deslocar o “Eu te amo”

de um único definitivo dia

que parece bastá-lo como juramento

e cuja repetição, parece maculá-lo ou duvidá-lo...


Qual nada!

Pois que o euteamo é da dinâmica dos dias

É do melhoramento do amor

É do avanço dele

É verbo de consistência

É conjugação de alquimia

É do departamento das coisas eternas

que se repetem variadas e iguais todos os dias

na fartura das rotações e seus relógios de colmeias

no ciclo das noites e na eternidade das estréias:


O sol se aurora e se põe com exuberância comum e com

novidade diária

e aí dizemos em espanto bom: Que dia lindo!

E é! Porque só aquele dia lindo

é lindo como aquele.

Nossa sede, por mais primitiva,

é sempre uma

loucura da falta inédita

até o paraíso da água nova

no deserto da nova goela.


Ela, a água,

a transparente obviedade que

habita nosso corpo

e nos exige reposição cujo modo é o

prazer.

Vê: tudo em nós comemora

o novo milenar de si

todas as horas:

Comer é novidade

Dormir é novidade

Doer é novidade

Sorrir é novidade


Maravilhosa repetitiva verdade que se

expõe em cachos a nosso dispor

variando em sabor e temor e glória

Por isso te amo agora como nunca antes

Porque quando te amei ontem

eu te amava naquele tempo

e sou hoje o gerúndio daquela disposição de verbo

Te amo hoje com você dentro

embora sem você perto

Te amo em viagem

portanto em viragem diferente da que quando

estava perto

Meu certo é alto, forte


Te amo como nunca amei

você longe, meu continente, meu rei

Eu te amo quantas vezes for sentido

e só nesse motivo é que te amarei.

sábado, 19 de abril de 2008

LacanEm relacionamentos amorosos,

A gente dá o que não tem,

Pra quem não quer.

Uma noite sem você (João Linhares)

Com Rita Ribeiro

(...)

A saudade incendiando a madrugada.
No silêncio queima a chama da alegria.
Ainda lembro de você naquele dia
Me beijando, me dizendo que me amava.
Te amei tanto que eu não imaginava
Que sozinho ficaria triste e oco.
Quando o mundo me chamava eu tava mouco
Galopando no vagão do pensamento
Que uma noite sem você é muito tempo
E uma vida com você é muito pouco...

domingo, 13 de abril de 2008

À tarde, prosas construídas.
Dia seguinte, à imensidão da folha branca,
Brincam palavras distraídas...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Dois corpos que caem (trecho)

João Silvério Trevisan
(...)
- O que você faz aqui? - perguntou Antônio.- Estou me matando - respondeu João. - E você?- Que coincidência! Eu também. Espero que desta vez dê certo, porque é minha décima tentativa. Anos venho tentando. Mas tem sempre um amigo, um desconhecido e até bombeiro que impede. Você afinal está se matando por quê?- Por amor - respondeu João, sentindo o vento frio no rosto. - Eu, que amava tanto, fui trocado por um homem de olhos azuis. Infelizmente só tenho estes corriqueiros olhos castanhos...- E não lhe parece insensato destruir a vida por algo tão efêmero como o amor? - ponderou Antônio, sentindo a zoada que o acompanhava à morte.- Justamente. Trata-se de uma vingança da insensatez contra a lógica- gritou João num tom quase triunfante. - Em geral é a vida que destrói o amor. Desta vez, decidi que o amor acertaria contas com a vida!- Poxa! - exclamou Antônio - você fez do amor uma panacéia!- Antes fosse - replicou João, com um suspiro. - Duvidoso como é, o amor me provocou dores horríveis. Nunca se sabe se o que chamamos amor é desamparo, solidão doentia ou desejo incontrolável de dominação. O que na verdade me seduz é que o amor destrói certezas com a mesma incomparável transparência com que o caos significante enfrenta a insignificância
da ordem. Não, o amor não é solução para a vida. Mas é culminância. Morrer por ele me trouxe paz. (...)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fabrício CarpinejarEu não sei por que a amo. Cada vez mais não sei. Pode ser pelo seu pescoço que se levanta para ganhar altura quando estamos abraçados. Ou será que é pela forma em que dobra as pernas no sofá? Ou quando se contorce em espiral com beijos nas costas? Eu não sei por que a amo. Será que pela sua preguiça, que se enrola em mim de manhãzinha? Ou pela sua disposição de dar a volta por cima? Eu já parei para pensar por que a amo, mas lamento, não sei. Realmente não sei. Talvez seja pelas sobrancelhas que falam antes dos olhos. Ou pelo umbigo que inicia a mão. Ou pelo copo que você balança antes de beber, para convencer a água a partir? Tantos homens têm um motivo certo para amar, definido como um emprego, e você foi escolher logo um que nada tem a dizer. Será que é pelo amor aos filhos, excessivo, que sempre me inclui? Ou pela sua vontade de fazer mercado depois do almoço para gastar menos? Será que é pelo modo como canta, o modo como dança, com os braços acenando em linhas sinuosas como fumaça de chá? Será que é pelo toque em meu joelho enquanto dirijo? Pela sua respiração suspensa na penumbra? Ou pelas nossas saídas de madrugada para encontrar sorvete em botecos? Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem? Ou pela sua pressa de avisar que chegou, apertando o interfone mesmo com as chaves? Ou quando diz que está com frio no cinema? Ou quando fica muda querendo voltar ou quando fica ruidosa querendo passear? Ou quando pede que eu fique em casa mordendo o lábio de cima? Ou quando me enfrenta com raiva e me diz todas as verdades sem ao menos pedir para sentar? Ou quando sopra os machucados, de quem herdou o costume de soprar machucados mesmo quando não existem? Ou quando fica bêbada e declara que está bêbada para eu me aproveitar? Será que é pelo sua predileção em comprar presentes, sempre dando mais do que recebendo? Ou pela tapeçaria no fundo de suas bolsas, com notas, moedas, chicletes, batons e brincos avulsos? Será que a amo por que me irrita a viver mais? Será que a amo por que não me deixa a sós comigo? Eu juro que não sei por que a amo. Todo dia você se acorda querendo ouvir, eu pressinto, debruçada em meus ombros à espera do sinal, do cartão, das flores, da segunda aliança que é um par de palavras. Mas não descobri e não finjo. Entenderá que faltam motivos, só que sobram motivos. E dificulta-me pensar que se ama por motivos. Ama-se por insinuações. Será que é pelo seu medo de sangue? Pela sua infância vesga? Pelos seus joelhos esfolados nos móveis? Pelos seus amores frustrados? Pela sua letra arredondada nas vogais? Pela sua insatisfação com as roupas na hora de sair? Pela ânsia em atender o telefone com a esperança de que seja eu a dizer por que a amo? Eu não sei por que a amo. Não me fale. Quem sabe deixou de amar.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Ricardo Marques
Ouçam as vozes dos livros: são outro sentido, dão outro sentido. E quando são ouvidos são mais fortes que o grito, são mais doces que o riso e mais devastadores que o tiro.

terça-feira, 25 de março de 2008

Rita Apoena
Então, quando você me beijar, vai sentir o gosto da minha escrita, pois a fim de nunca esquecê-las, eu trago todas as minhas palavras na ponta da língua.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Hoje começa o outono brasileiro...

O outono é a estação da reflexão e do equilíbrio.
É o momento da maturidade de todos os processos iniciados na Primavera.
É hora de colher os frutos. O que não foi desenvolvido entra em processo de
eliminação e se dá então o início da reciclagem dos seres vivos.
Devemos acalmar nossas atitudes, dormir mais cedo e estar atento
ao movimento do mundo externo para o mundo interno.
É hora da avaliação profunda de nossas vidas; vemos os frutos que
temos para colher como resultado de todas as ações que executamos;
nos deparamos com a energia que gastamos com valores mais
superficiais; estamos diante da necessidade de conquistas mais internas e essenciais.
Este movimento de voltarmos a nós mesmos caracteriza a reflexão ( o reflexo
da ação ) ou da angústia.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ruy E. FilhoÉ muito tarde para não te amar.
Tudo o que ouço é o sopro do teu nome.
O que sinto é teu corpo, que consome -
presente, ausente - o meu corpo.

Pagano Sobrinho

O dia de amanhã ninguém usou.
Pode ser seu.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Dave Weinbaum A lição mais importante que se pode aprender quando se vence é que se pode vencer.
“Não serás censurado por seres ignorante contra tua vontade, mas por deixar de investigar o que te torna ignorante; não por conseguires recompor teus ombros feridos, mas por rejeitar aquele que os curaria.”

terça-feira, 11 de março de 2008

Aproveitemos


- Olha!
- O quê?
- Vai acabar...
- Eu sei.
- E, então?
- O quê?
- O que vamos fazer?
- ...
- Silêncio, o dia vai dormir...
- Aproveitemos...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Hálito mestiço

Michel MelamedEm futuro estudo a ser publicado em conceituada revista do meio científico, será comprovada não só a existência, mas os índices alarmantes da incidência da cárie cerebral. O fenômeno, que atinge povos de todos os países, tem como uma das suas principais causas, como é de se esperar, os péssimos hábitos alimentares das populações, cultivados, principalmente, através do consumo de enlatados americanos, novelas açucaradas e toda a sorte de (conceitos) embutidos. A fim de evitar a extração do órgão sob risco de seqüelas irreversíveis, como por exemplo, o pensamento banguela, recomenda-se expressamente o uso continuo e correto do fio mental. E da escova de mentes. Vamos juntos fazer do Brasil um país de sorriso branco e preto e mulato e cafuzo e índio e... hálito mestiço!

Casa comigo

Michel MelamedCasa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo.
A mais linda, a mais amada, respeitada, cuidada...
A mais bem comida e a pessoa mais namorada do mundo e a mais casada e a mais festas, viagens, jantares...
Casa comigo que te faço pessoa mais realizada profissionalmente e a mais grávida e a mais mãe e a pessoa mais as primeiras discussões.
A pessoa mais novas brigas e as discussões de sempre.
Casa comigo que te faço a pessoa mais separada do mundo.
Te faço a pessoa mais solitária com um filho pra criar do mundo.
A pessoa mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima de todas.
A mais reconstruiu sua vida.
A mais conheceu uma nova pessoa.
A mais se apaixonou novamente...
Casa comigo que te faço a pessoa mais.

Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo.

sexta-feira, 7 de março de 2008

08 de março - Dia Internacional da Mulher

Martha MedeirosHoje é o Dia Internacional da Mulher, que na prática não ajuda a mudar muita coisa, mas ao menos serve para reflexões, debates e crônicas temáticas. O que valeria a pena discutir hoje? Proponho um assunto sem relevância política, mas igualmente importante: o recheio. Tudo o que temos retirado de nós, tudo o que tem sido lipoaspirado de nossas vidas. Já fomos mais silenciosas. Mas, ao ganhar o direito à voz, nos tornamos mulheres aflitas, que não se permitem um momento de quietude. Falamos, falamos, falamos compulsivamente, como se fosse contra-indicado guardar-se um pouco, como se o silêncio pudesse nos inchar. Já sofremos com mais pudor. Hoje nossas deprês são extravasadas, distribuídas, ofertadas, viram capa de revista, como se a dor fosse uma inimiga a ser despejada, como se o sofrimento fosse algo venenoso e necessitasse de expulsão, como se não valesse a pena alimentar-se dele e através dele crescer. Já fomos mães mais atentas, que geravam por mais tempo, por bem mais do que nove meses. Levávamos os filhos dentro de nossas vidas por longos anos. Hoje temos mais pressa em entregá-los para o mundo, a responsabilidade pesa, e como peso é tudo o que não queremos, acabamos por nos aliviar dos compromissos severos de toda a educação. Já fomos mais românticas. Hoje o sexo é mais importante, queima calorias, melhora a pele e não duvido que um coração vazio também ajude na hora de subir na balança. Por um lado, conquistamos tanto, e, por outro, estamos nos esvaziando, querendo tudo rápido demais e abrindo mão de aproveitar o que a vida tem de melhor: o sabor, o gosto. Calma, meninas. Amor não engorda. Discrição não engorda. Reflexão não engorda. Não é preciso se agitar tanto, correr tanto, falar tanto, brigar tanto, nada disso é exercício aeróbico, é apenas tensão. Nesse ritmo, perderemos a beleza da feminilidade e acabaremos secas não só por fora, mas por dentro também. Feliz Dia da Mulher. Que nada nos sugue, tudo nos preencha.

Dia Internacional da Mulher - 08 de março

Fabrício Carpinejar
Sou desconfiado com o Dia Internacional da Mulher. Como sou cético com o Dia dos Namorados. Nessas datas, esquecemos de pensar para convencionar gestos e gastos. É um cuidado protocolar para não magoar a corrente, a enxurrada de manifestações, os compromissos festivos. Um dia de rosa deslocada dos espinhos. E qual é o espinho? Continuar comparando a mulher com o que o homem faz ou deixa de fazer. A mulher ganhou terreno no trabalho e assume cargos antes dirigidos por homens. A mulher conduz ônibus. A mulher joga futebol. A mulher apita jogos. A mulher comenta esportes. Só falta correr na Fórmula 1? Existe o hábito machista de dizer que a mulher se emancipou ou evoluiu tendo como referência a ocupação dela em atividades ditas masculinas, que na verdade nunca foram masculinas Ser dona de uma empresa e ser dona de um estádio não aumentam a cotação da mulher. Mulher não tem cotação, porém valor. Sempre foi política mesmo quando não podia se candidatar. Não depende de uma cota para ser votada. De uma chance para ser vista. De um amor para ser compreendida. De um emprego para dizer sua opinião. A mulher é incomparável desde sempre. Mania de moldar à mulher por uma realidade masculina. E o que elas fizeram antes dos homens, não conta? E o que os homens fizeram a partir dela, não conta? Não sei, não sei, é uma chatice tremenda falar de gênero quando não somos capazes de mudar a própria rotina intelectual. Mulher tem poder, que a autoridade masculina demorará a entender. Poder e autoridade são distintos. Poder é o que se conquista naturalmente, autoridade é uma adaptação social, provisória e efêmera. Meus filhos não me procuram quando estão doentes. Procuram a mãe. A confiança que emana dela vem do cuidadoso detalhe, a sinfonia corrigida à mão, o abraço que protege e conforta. A mulher oferece a intimidade da percepção, a capacidade periférica de enxergar do lado de dentro para fora. É atenciosa com o que não oferece utilidade. O homem importa-se com o domínio, não com a intimidade. Quantas vezes já vi um homem apresentar orgulhoso sua namorada como uma roupa exclusiva e cara para provocar inveja? A mulher tem a necessidade de ser feliz, o homem parece que tem a obrigação de ser feliz. Felicidade não se herda.
Arnaldo Agria Huss A duração do tempo é difícil de entender. Ele é mutante em si mesmo. Pode ser extremamente longo ou extremamente curto, em função da ausência ou da presença de alguém.

Dez frases de Fabrício Carpinejar


“Tudo foi brincadeira, tudo será sempre uma brincadeira sádica, uma brincadeira cruel, quando apenas um dos dois estiver amando.”
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"O desejo é um medo que não tem cura."
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"Não desisto de me encontrar onde não estou."
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"O poema é uma mão tremendo. Seguro no poema não para aliviar o tremor, mas para ser contagiado por ele."
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"Antes sem modos do que seguir moda."
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"Agradeço meus limites. Não me suportaria infinito. Os limites são vantagens."
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"É mais difícil arrastar uma pessoa desmaiada, morta, tudo é bem mais pesado. É necessário que tenha vida para conseguir carregar. Assim eu penso os livros."
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“Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem.”
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“A monotonia surge no momento em que o entusiasmo se transforma em obrigação.”
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“É fácil ficar em casa com chuva, difícil é ficar com o sol lá fora. Ficar em casa com sol lá fora só com muito amor dentro.”

terça-feira, 4 de março de 2008

Pessoas são músicas... você já percebeu?

Autor desconhecidoElas entram na vida da gente e deixam sinais. Como a sonoridade do vento ao final da tarde. Como os ataques de guitarras e metais presentes em cada clarão da manhã.
Olhe a pessoa que está ao seu lado e você vai descobrir, olhando no fundo, que há uma melodia brilhando no disco do olhar. Procure escutar. Pessoas foram compostas para serem ouvidas, sentidas, compreendidas e interpretadas. Para tocarem nossas vidas com a mesma força do instante em que foram criadas, para tocarem suas próprias vidas com toda essa magia de serem músicas. E de poderem alçar todos os vôos, de poderem vibrar em todas as notas, de poderem cumprir, afinal, todo o sentido que a elas foi dado pelo compositor.
Pessoas são músicas. Está ouvindo? Pessoas têm que fazer sucesso. Mesmo que não estejam nas paradas. Mesmo que não toquem na rádio.

Sentimental - Los Hermanos

De tanto eu te falar você subverteu o que era um sentimento e assim fez dele razão pra se perder no abismo que é pensar e sentir...

domingo, 2 de março de 2008

Nietzsche
Mudei-me da casa dos eruditos e bati a porta ao sair. Por muito tempo a minha alma assentou-se faminta à sua mesa. Não sou como eles, treinados a buscar o conhecimento como especialistas em rachar fios de cabelo ao meio. Amo a liberdade. Amo o ar sobre a terra fresca. É melhor dormir em meio às vacas que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades.
Martha Medeiros

A liberdade não se veste bem,

Não tem bons modos, não liga

Para o que os outros vão dizer.

Ser absolutamente livre tem

Um ônus que poucos se atrevem a pagar.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Cláudio Lessa da Fonseca
Não sou livre, eis a verdade.
Sigo acorrentado à invenção da felicidade.
E, em tal condição, converto-me em coisa:
Posso ser trocado, comprado ou vendido.

Talvez, minha sorte esteja
Em ser, eu, produto ultrapassado.
Com defeitos, com rasuras.
Desqualificado para o mercado.
Tó CazzaliNa hora de mandar


Alguém pro inferno,


À maldade não se entregue.


Adoce sua intenção,


Balance o corpo, sorria


E diga: que o diabo o ca-reggae!
Renato Russo

Teu corpo é meu espelho

Em ti navego.

Eu sei que a tua correnteza não tem fim...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Música - Vanessa da Mata

Nosso sonho
Se perdeu no fio da vida
E eu vou embora
Sem mais feridas
Sem despedidas
Eu quero ver o mar

Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música

Nossas juras de amor
Já desbotadas
Nossos beijos de outrora
Foram guardados
Nosso mais belo plano
Desperdiçado
Nossa graça e vontade
Derretem na chuva

Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música

Um costume de nós
Fica agarrado
As lembranças, os cheiros.
Dilacerados
Nossa bela história
Está no passado
O amor que me tinhas
Era pouco e se acabou...

Marisa Monte - Até Parece

Até parece
Que não lembra
Que não sabe
O que passou
Não faz assim!...

Não faz de conta
Que não pensa
Em outra chance
Prá nós dois
Olha prá mim...

Não me torture
Não simule
Não me cure
De você...

Deixa o amanhã dizer!