domingo, 1 de novembro de 2009

José Luís Peixoto in Cemitério de pianos

Havia aquele verão noturno. Eu esperava e, num único momento: os passos dela no outro lado do muro, o meu coração perdido dentro de mim, os movimentos dela desenhados no silêncio, eu perdido em mim. E, num único momento: ela, finalmente, o peso do corpo dela a ser muito mais do que apenas peso, ela, a forma do corpo dela a ser muito mais do que apenas forma, finalmente, eu quase a sentir-me chorar, e ela, finalmente, o corpo dela a ser muito mais do que apenas o corpo dela, finalmente, dentro dos meus braços. A sua cabeça tombada sobre o meu ombro. Os seus cabelos a tocarem-me a face.

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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Antoniel Campos

Acordado

Que seja o teu querer
a exata medida do meu:
somente amanhecer
por saber que o gosto de nós
ainda nos cobre por lençol
e que todas as palavras
com todas as suas curvas
jamais descreveriam
as minhas nas tuas.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Cristiano Siqueira

Amor e devaneio

Por trás das árvores
à frente das grades
cai a cor do céu.

Meu pensamento diante
de teu semblante
não está sozinho
quanto eu.

Folhas de outono
ressecam meus passos.
ecoa em meu caminho
a última oxítona de teus lábios.

Nos teus ouvidos,
os sussurros das palavras
que ousei não confessar.



domingo, 25 de outubro de 2009

Tati Bernardi


Minha fome é sobrevivência, minha vontade é mecânica, minha beleza é esforço, meu brilho é choro, meus dias são pontes para os dias de verdade que virão quando essa dor acabar, meus segundos são sentidos em milésimos de segundos, o tempo simplesmente não passa.

Juliana Andrade

Meu corpo
Sinto que meus olhos estão pesados...
Sinto hoje o que já senti, e espero ver nas estrelas minha sorte
Sabiamente me perco em ilusões poéticas
E admiro lixos literários sem prepotência.
Às vezes penso em escrever frases, versos, estrofes mentirosas
 
Mas a letra forma meu corpo
E a sede incendeia minhas veias
A ponto de borbulhar o meu sangue e sair por meus poros
E o sol queima dentro da minha boca
E sinto o calor jamais vivido
E selo a certeza do não acontecido
Embora me condene pela minha insatisfação.
(...)