domingo, 6 de dezembro de 2009

Chacal

Uma gargalhada num canto da sala

Nervosa de unhas roídas

Estalou e rolou nos aposentos

Como se a alegria tivesse sido convidada

Mas não foi.

É que houve um mal-entendido.



Glória de Sant'Anna

Epitáfio


Eu um dia serei uma palha de vento
pousando inadvertidamente em tua face
e me sacudirás
Eu um dia serei uma réstia de chuva
caída por acaso em tua fronte
e me sacudirás
E eu um dia serei a última lembrança
imponderável já na tua mente
e então me esquecerás



sábado, 5 de dezembro de 2009

Elizabeth Hazin


Sou neto das tempestades
que sopram pelos desertos
um destino de saudades.
Com seus nós quase desfeitos

eu trago a garganta aberta
escancarada vazando
uma voz suja de terra
que filtra os dias e as noites.

Na ponta de minha língua
o tempo acaba ou começa?
Brota em mim o som da flauta

brota mais — a flor do sangue —
ao sol que queima sem pena
nesse deserto tão grande.


Margarida Antunes

Fala-me do tempo como se não fosse em ti
que todos os dias nascem.
Como se as estações se sucedessem
e não fosse sempre Verão na tua boca.
Como se não crescessem frutos nos teus dedos
e eu não sentisse neles o doce dos dias.
Falam-me do tempo como se nos teus braços
as horas não fossem mais pequenas
e os dias se tecessem mais devagar.
Como se o amor não obedecesse ao vento da vida
E pudesses ficar — para sempre —
a encher o mundo de presentes,
eternos como a natureza.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cristiano Siqueira

Ai! Esse tempo!esse tempo em que teus olhos não estão
no meu rosto
triste como o olhar de uma janela perdida pelo muro
dos vazios afundado
no que não há
significado.
esse tempo,
esse tempo,
esse tempo...
como bate um relógio
de sol contra o vento.

ai! esse tempo!

há tempos só me diz
do matiz da distância.
esse tempo não faz tempo,
mas é maior que a lembrança.