domingo, 27 de dezembro de 2009

Lya Luft

...Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha à pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança. Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas, mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade. Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá à pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.



Lygia Fagundes Telles

É preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca.
A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas da vida. A música. Este céu que nem promete chuva. Aquela estrelinha nascendo ali... Está vendo aquela estrelinha? Há milênios não tem feito nada, não guiou os reis magos, nem os pastores, nem os marinheiros perdidos... Apenas brilha. Ninguém repara nela porque é uma estrela inútil. Pois é preciso amar o inútil porque no inútil está a beleza.

William Shakespeare

Há certas horas, em que não precisamos de um Amor
Não precisamos da paixão desmedida
Não queremos beijo na boca
E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama.
Há certas horas, que só queremos a mão no ombro,
o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado
Sem nada dizer...
Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar,
que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente,
a brincar com a gente, a nos fazer sorrir
Alguém que ria de nossas piadas sem graça
Que ache nossas tristezas as maiores do mundo
Que nos teça elogios sem fim
E que apesar de todas essas mentiras úteis,
nos seja de uma sinceridade inquestionável.
Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado
Alguém que nos possa dizer:
Acho que você está errado, mas estou do seu lado.
Ou alguém que apenas diga:
Sou seu amor! E estou Aqui!



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Arnaldo Jabor

Os pedidos para Papai Noel

Natal, Natal! Bimbalham os sinos! Sempre quis usar esta frase, pois amanhã, apesar do pólo norte derretendo, dos ursos brancos se devorando de fome, Papai Noel vai chegar!

Se bem que em Brasília ele já chegou ou Arruda não foi um Papai Noel para seus meninos? Mas o que posso escrever de verdade para o bom velhinho?

Querido Papai Noel, por favor, eu sou um bom sujeito.

- Dai-me a felicidade de ver um só, basta um parlamentar na cadeia, condenado pelo STF.
- Dai-nos a aprovação da lei de execuções penais e um movimento popular pela a reforma do judiciário.
- Dai-me também uma pele de rinoceronte para resistir aos terríveis casos de criancinhas brutalizadas, tantas crianças foram atacadas, Papai Noel. Do João Helio, passando por Isabela até esse menino das agulhas. Por que, Papai Noel?
- Dai – me a coragem dos canalhas para fazer o bem, em vez das vacilações covardes de muitos homens de bem.
- Dai um pouco mais de memória ao povo, mas se eu for irresistivelmente atraído pelo mal, diante do sucesso de tantos impunes, dai-me um panetonezinho daqueles do Arrudinha cheio de euros.
- Dai-me um terno de teflon igual ao do Sarney, onde nada gruda.
- Dai-me advogados tão bons como os do Maluf e do Daniel Dantas. Eu quero meias calças grandes, cuecas reforçadas, hábeas corpus preventivos.
- Dai-me a capacidade de mentir sem tremores, dai-me lágrimas de crocodilo e abraços de tamanduá em inimigos.
- Dai-me o tempo e a paciência, que eu conquistarei o esquecimento.
- Dai-me a cara de pau de tantos impunes vitoriosos, dai-me sorrisos cínicos. Posso precisar Papai Noel, quem sabe?