O coração humano é a região do inesperado.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Julien Green
Você sabe tão bem quanto eu que uma das principais causas do tédio é a estreiteza de nosso destino. Todas as manhãs despertamos iguais ao que éramos na véspera. Ser eternamente o mesmo é insuportável para os espíritos refinados pela reflexão. Sair do próprio eu é um dos sonhos mais inteligentes que um homem pode ter.
Alberto Caeiro
Deste modo ou daquele modo, conforme calha ou não calha. Podendo às vezes dizer o que penso, e outras vezes dizendo-o mal e com misturas. Eu vou falando sobre os meus modos sem querer. Como se falar não fosse uma coisa feita de gestos. Como se falar fosse uma coisa que me acontecesse, assim como sentir o sol. Eu procuro dizer o que sinto sem pensar no que sinto. Eu procuro encostar as palavras à idéia. E não precisar de um corredor do pensamento para as palavras. Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado por que lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar. Eu procuro esquecer do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram sentidos. Mostrar minhas emoções verdadeiras.
José Saramago
A paciência do tempo. Duzentos anos a fabricar pedra, a construir uma pequena coluna, um mísero toco em que ninguém reparará depois. Duzentos anos de trabalho monótono e aplicado, indiferente às maravilhas que cobrem as paredes altíssimas da gruta e fazem rebentar flores de pedra do chão. Duzentos anos assim, só porque assim tem de ser.
Falo do tempo e de pedras e, contudo, é em homens que penso. Porque são eles a verdadeira matéria do tempo, a pedra de cima e a pedra de baixo, a gota de água que é sangue e é também suor. Porque são eles a paciente coragem, e a longa espera, e o esforço sem limites, a dor aceita e recusada - duzentos anos, se assim tiver de ser.
Falo do tempo e de pedras e, contudo, é em homens que penso. Porque são eles a verdadeira matéria do tempo, a pedra de cima e a pedra de baixo, a gota de água que é sangue e é também suor. Porque são eles a paciente coragem, e a longa espera, e o esforço sem limites, a dor aceita e recusada - duzentos anos, se assim tiver de ser.
Cristiano Siqueira
Meu estado de espírito
não é uma coisa nem outra
Um elo de todas as coisas
com as folhas soltas
Dou três passos e paro
Olho para o céu e respiro
Sou mistura de fato marcado
Com a ilusão de um místico
Escoro meu ombro ao muro
Fecho o olho e delineio
O porquê de meu freio
E a velocidade dos mundos
Sou qualquer estado ilhado
Nem fora nem dentro de mim
Poeira cósmica ou um só cisco
Sou eu quem me assisto!
não é uma coisa nem outra
Um elo de todas as coisas
com as folhas soltas
Dou três passos e paro
Olho para o céu e respiro
Sou mistura de fato marcado
Com a ilusão de um místico
Escoro meu ombro ao muro
Fecho o olho e delineio
O porquê de meu freio
E a velocidade dos mundos
Sou qualquer estado ilhado
Nem fora nem dentro de mim
Poeira cósmica ou um só cisco
Sou eu quem me assisto!
Manuel Bandeira
O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada como teu próprio pensamento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é a vida!
Bertolt Brecht
Nada é impossível mudar
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
T. Todorov
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As diferenças se movimentam, com o tempo, elas mudam de lugar, se organizam, mas jamais desaparecem.
Clarice Lispector
Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
José Luis Peixoto
Devagar, o tempo transforma tudo em tempo
O ódio transforma-se em tempo,
O ódio transforma-se em tempo,
O amor transforma-se em tempo,
A dor transforma-se em tempoOs assuntos que julgamos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo
Mas por si só, o tempo não é nada
A idade de nada é nada
A eternidade não existe.
domingo, 8 de agosto de 2010
Às vezes
“Às vezes as coisas não vão, no fim das contas,
de mau a pior. Em alguns anos, a uva resiste à geada;
o verde triunfa; as colheitas não são perdidas,
às vezes um homem sonha alto, e dá tudo certo.
Um povo às vezes pode desistir da guerra;
eleger um homem honesto; decidir que se importa
sim, e que não se deve deixar algum estranho na pobreza.
Alguns homens tornam-se aquilo que nasceram para ser.
Às vezes nossos melhores esforços não se extraviam;
às vezes a gente consegue fazer do jeito que queria.
O sol às vezes derrete um campo de dor
que parecia congelado: oxalá aconteça a você.”
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Ana Miranda
(...) amava, mas não pensei que amava tanto, amava, mas podia amar mais e muito mais, amava, mas o amor que tinha para o amor que adivinhava...era o espaço em relação à imensidade...
Clarice Lispector
terça-feira, 27 de julho de 2010
20 X VoCê
Morrer de amor ao pé da tua boca
Desfalecer à pele do sorriso Sufocar de prazer com o teu corpo Trocar tudo por ti se for preciso. (Maria Teresa Horta)
Desfalecer à pele do sorriso
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Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na Profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinitas dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente
Eu te amo
Desde a criação das águas,
Desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
E te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente. ( Adalgisa Nery )
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