O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Muriel Barbery in A Elegância do Ouriço
Onde se encontra a beleza? Nas grandes coisas que, como as outras, estão condenadas a morrer, ou nas pequenas que, sem nada pretender, sabem incrustar no instante uma preciosa pedrinha de infinito?
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Florbela Espanca
O meu mundo não é como o dos outros!
Quero demais, exijo demais.
Há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante que nem eu mesma compreendo.
Pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada,
com uma alma intensa, violenta, atormentada.
Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade...
sei lá de quê!
Celebração do instante
Cairo de Trindade
Hoje é sempre melhor do que ontem, porque hoje é hoje,
esta coisa mágica, única, surpreendente, que se acaba de repente.
Hoje é melhor do que amanhã, porque hoje é hoje
e estamos vivos e plenos de tanto, até não se sabe como e quando.
Hoje é sempre melhor do que sempre, porque hoje é hoje,
o amanhã é um mistério e o ontem é só memória, história, já era.
Hoje é sempre o maior presente, porque a vida é agora,
esta hora de som e luz e festa, e este instante é tudo o que nos resta.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Hannah Arendt in Homens em tempos sombrios
E esse pensar, alimentado pelo presente, trabalha com 'os fragmentos do pensamento' que consegue extorquir do passado e reunir sobre si. Como um pescador de pérolas que desce ao fundo do mar, não para escavá-lo e trazer à luz, mas para extrair o rico e o estranho, as pérolas e o coral das profundezas, e trazê-los à superfície, esse pensar sonda as profundezas do passado - mas não para ressuscitá-lo tal como era e contribuir para a renovação das coisas extintas. O que guia esse pensamento é a convicção de que, embora vivo, esteja sujeito à ruína do tempo, o processo de decadência é ao mesmo tempo um processo de cristalização, que nas profundezas do mar, onde afunda e se dissolve aquilo que outrora era vivo, algumas coisas 'sofrem uma transformação marinha' e sobrevivem em novas formas e contornos cristalizados que se mantêm imunes aos elementos, como se apenas esperassem o pescador de pérolas que um dia descerá até elas e as trará ao mundo dos vivos - como 'fragmentos do pensamento', como algo 'rico e estranho.'
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