A vida nos obriga a fazer escolhas terríveis, mas parece que agora decidimos que “tudo é bonito se dissermos que é bonito”. Como nos contos de fadas. Mentira: nossas escolhas são pautadas pelo útil, nossos atos são calculados, nossos afetos são estratégicos. E a moderna ciência do egoísmo encontra as fórmulas para fazer isso tudo bonito. E o contrário disso não é a felicidade, mas a maturidade. Adultos infantis não gostam disso. Preferem ser avatares de si mesmos num mundo sempre florido. A infantilização do mundo caminha a passos largos. Todos abraçam sua “mentira ética” como forma pessoal de marketing de comportamento. Como numa espécie de “lenda ética sobre si mesmo”, queremos projetar de nós mesmos uma imagem de doçura que, na calada da noite, traímos. É nessa mesma calada da noite que acordo e peço a Deus que me faça não ver os outros apenas como “uso”. Mas sempre fracasso. Não pensar nas pessoas apenas como objeto de uso é uma conquista dolorosa, como tirar leite de pedras.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Machado de Assis in Dom Casmurro
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.
Muriel Barbery in A Elegância do Ouriço
Onde se encontra a beleza? Nas grandes coisas que, como as outras, estão condenadas a morrer, ou nas pequenas que, sem nada pretender, sabem incrustar no instante uma preciosa pedrinha de infinito?
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Florbela Espanca
O meu mundo não é como o dos outros!
Quero demais, exijo demais.
Há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante que nem eu mesma compreendo.
Pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada,
com uma alma intensa, violenta, atormentada.
Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade...
sei lá de quê!
Celebração do instante
Cairo de Trindade
Hoje é sempre melhor do que ontem, porque hoje é hoje,
esta coisa mágica, única, surpreendente, que se acaba de repente.
Hoje é melhor do que amanhã, porque hoje é hoje
e estamos vivos e plenos de tanto, até não se sabe como e quando.
Hoje é sempre melhor do que sempre, porque hoje é hoje,
o amanhã é um mistério e o ontem é só memória, história, já era.
Hoje é sempre o maior presente, porque a vida é agora,
esta hora de som e luz e festa, e este instante é tudo o que nos resta.
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