sábado, 1 de janeiro de 2011

Amina Urasaki

um vazio no peito
um novo apartamento
um gozo diferente
uma nova semente
um aroma de gente
quem sabe... Janeiro

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Irineu Toledo

Feliz Ano Novo!

Que 2011 seja um ano pleno, com muito crédito, mas se possível sem juros e que o gerente do banco seja, assim como eu, um profissional em busca de melhor futuro.
Que 2011 seja ameno. Sem escândalos ou roubalheiras e que, sem eleições em outubro, possamos sonhar e construir uma democracia mais madura.
Que neste novo ano e eu me sinta mais forte, íntegro e seguro e que amor participe da minha vida sem adjetivos ou subterfúgios e que a cada manhã eu possa acordar menos noturno.
Que eu tenha muitos amigos e que além dos novos, eu redescubra os antigos.
Que consiga riscar do vocabulário palavras como desafeto e inimigo.
Que eu possa crescer sem que ninguém diminua.
Que eu possa sorrir sem que ninguém chore.
Que eu possa enricar sem fazer a ninguém pobre.
E que eu possa ser feliz sem o custo da tristeza alheia.
E que ao fim do ano eu me sinta como se estivesse de novo começando.
Mais jovem mais ingênuo. Sem a malícia dos agiotas nem a má fé dos capitalistas. Apenas me sentindo mais humano.
Que este ano, como a cada novo ano, eu consiga descobrir que o ato de envelhecer está em tornar-se mais sensível a ponto de descobrir o paradoxo da existência. Quanto mais velho ficamos mais crianças nos tornamos.
Um 2011 de muita infância e saúde...
Que venha o próximo ano!!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

José Eduardo Agualusa


Eu creio firmemente que é pela poesia que tudo vai começar.

Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão, tipo água, pedra, sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: amo os restos, como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: sou da invencionática... Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Cristovão Tezza


(...), e ao mesmo tempo intrometeu-se a idéia de que ela gosta de literatura pesada, de becos sem saída, de agressões surdas, de aporias, incomunicabilidades exasperantes e gaguejantes – mas só na literatura, na vida ela quer final feliz, (...) na vida ela quer se sentir bem e se sentir amada, na vida ela quer a doce sensação de permanência – a doce sensação de permanência – ela sussurrou, será que isso é bom?

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

3º verão de vinte e cinco 28

3º verão de vinte e cinco 28

José Saramago
Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.

3º verão de vinte e cinco 28

Carlito Azevedo

Sobre esta pele branca
um calígrafo oriental
teria gravado
sua escrita luminosa
– sem esquecer entanto
a boca: um ícone em rubro
tornando mais fogo
o céu de outubro

tornando mais água
a minha sede
sede de dilúvio –

Talvez este poeta afogado
nas ondas de algum danúbio imaginário
dissesse que seus olhos são
duas machadinhas de jade
escavando o constelário noturno
(a partir do que comporia duzentas odes cromáticas)

mas eu que venero mais que o ouro-verde raríssimo
o marfim em alta-alvura
de teu andar em desmesura sobre
uma passarela de relâmpagos súbitos
sei que tua pele pálida de papel
pede palavras de luz

Algum mozárabe ou andaluz decerto
te dedicaria um concerto
para guitarras mouriscas
e cimitarras suicidas

Mas eu te dedico quando passas
me fazendo fremir

(entre tantos circunstantes, raptores fugidios)
este tiroteio de silêncios
esta salva de arrepios.