domingo, 2 de janeiro de 2011


Isso me fez lembrar aquela história dos dois rabinos que invadem a madrugada discutindo a existência de Deus e, depois de umas taças de bom vinho, concluem que Deus não existe. Já tarde da noite cada um vai para o seu aposento, mas como de costume acordam bem cedo. Um deles, entretanto, não se apresenta para o desjejum. O outro sai à sua procura vasculhando a casa, e logo encontra o amigo no jardim fazendo seu rito matinal. Ele tem a cabeça coberta com o solidéu, os ombros com o tallit, o manto de orações, e em voz alta repete o Shacharit e o Shema.
– O que você está fazendo?
– Minhas orações matinais, responde o outro com naturalidade.
– Mas nós não concluímos que Deus não existe?
– E o que é que Deus tem a ver com isso?

no blog do Ed René

sábado, 1 de janeiro de 2011

Amina Urasaki

um vazio no peito
um novo apartamento
um gozo diferente
uma nova semente
um aroma de gente
quem sabe... Janeiro

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Irineu Toledo

Feliz Ano Novo!

Que 2011 seja um ano pleno, com muito crédito, mas se possível sem juros e que o gerente do banco seja, assim como eu, um profissional em busca de melhor futuro.
Que 2011 seja ameno. Sem escândalos ou roubalheiras e que, sem eleições em outubro, possamos sonhar e construir uma democracia mais madura.
Que neste novo ano e eu me sinta mais forte, íntegro e seguro e que amor participe da minha vida sem adjetivos ou subterfúgios e que a cada manhã eu possa acordar menos noturno.
Que eu tenha muitos amigos e que além dos novos, eu redescubra os antigos.
Que consiga riscar do vocabulário palavras como desafeto e inimigo.
Que eu possa crescer sem que ninguém diminua.
Que eu possa sorrir sem que ninguém chore.
Que eu possa enricar sem fazer a ninguém pobre.
E que eu possa ser feliz sem o custo da tristeza alheia.
E que ao fim do ano eu me sinta como se estivesse de novo começando.
Mais jovem mais ingênuo. Sem a malícia dos agiotas nem a má fé dos capitalistas. Apenas me sentindo mais humano.
Que este ano, como a cada novo ano, eu consiga descobrir que o ato de envelhecer está em tornar-se mais sensível a ponto de descobrir o paradoxo da existência. Quanto mais velho ficamos mais crianças nos tornamos.
Um 2011 de muita infância e saúde...
Que venha o próximo ano!!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

José Eduardo Agualusa


Eu creio firmemente que é pela poesia que tudo vai começar.

Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão, tipo água, pedra, sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: amo os restos, como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: sou da invencionática... Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Cristovão Tezza


(...), e ao mesmo tempo intrometeu-se a idéia de que ela gosta de literatura pesada, de becos sem saída, de agressões surdas, de aporias, incomunicabilidades exasperantes e gaguejantes – mas só na literatura, na vida ela quer final feliz, (...) na vida ela quer se sentir bem e se sentir amada, na vida ela quer a doce sensação de permanência – a doce sensação de permanência – ela sussurrou, será que isso é bom?