sábado, 20 de outubro de 2007

Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender - Arthur da Távola



Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.
Tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva, mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.
Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais
de repente se percebeu ameaçados apenas e tão somente
porque não sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo no amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar,
de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência. Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível?
Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer. Quem espera mais do que isso, sofre e, sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.
Saia cantando e olhe alegre. Recomendam-se: encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”, arquivar se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para quem ama toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível. Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos dos nossos sonhos): não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que sente. Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser.
Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que instruiu em criança. Sem medo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade. Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor,
ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito
(a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é e nunca, deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor
e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

poemito para você


Todos os dias
Eu durmo e
Acordo você...

Poemito para você

É lá que eu te amo...

E lá que eu te amo

Onde os desejos sinceros se abraçam.

Onde a loucura é só gesto o simples de querer estar ao lado.

Onde poucos entendem a entrega.

Onde cada mês é intenso e mágico,

Onde tudo é real.

Onde a saudade tem o seu nome.

E lá que eu te amo

Onde o abraço recita poemas de amor.

Onde o beijo é lúdico e sensual.

Onde a emoção não é contida.

Onde o amor é só um suspiro indecifrável.

Onde todos os dias da semana sempre caem na quarta-feira quente.

Onde o olhar é uma leitura doce e silenciosa.

E lá que eu te amo

Onde o romantismo é sempre um sol.

Onde o toque suave acalma o coração aflito.

Onde o corpo é um parque de diversão.

Onde o arco-íris ama o mar.

Onde o ponto não é final.

Onde a pele é só uma página

De um livro de amor que não tem fim.

E lá que eu te amo...

Lá...

Shakespeare

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.



poemito para você

Toda a minha obra poética está nos seus olhos.

Olhar-te causa-me poema...

Chico Buarque


(...)
Consta nos astros, nos signos, nos búzios
eu li num anúncio, eu vi no espelho,
tá lá no evangelho,
garantem os orixás:
serás o meu amor, serás a minha paz…
consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
eu fiz uma tese, eu li num tratado,
está computado nos dados oficiais:
serás o meu amor, serás a minha paz…
mas, se a ciência provar o contrário,
e se o calendário nos contrariar,
mas, se o destino insistir em nos separar,
danem-se os astros, os autos,os signos, os dogmas,
os búzios, as bulas,anúncios, tratados, ciganas,
projetos,profetas, sinopses, espelhos, conselhos…
se dane o evangelho e todos os orixás!…
serás o meu amor, serás, amor, a minha paz!…
consta na pauta, no Karma, na carne,passou na novela,
está no seguro,pixaram no muro, mandei fazer um cartaz:
serás o meu amor, serás a minha paz…
mas, se a ciência provar o contrário
e se o calendário nos contrariar,
mas, se o destino insistir em nos separar,
danem-se os astros, os autos,os signos, os dogmas, os búzios,
as bulas,anúncios, tratados, ciganas, projetos,profetas, sinopses,
espelhos, conselhos…
se dane o evangelho e todos os orixás!…
serás o meu amor, serás, amor, a minha paz!…
consta nos mapas, nos lábios, nos lápis,consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca…

sexta-feira, 19 de outubro de 2007



Lourival Lopes


Agradecendo, a angústia desaparece.

O sofrimento passa a desaparecer a partir do momento em que você agradece a Deus.

O estado de contrariedade é que caracteriza o sofrimento. Se você não se sentir contrariado, some a sensação. Estar em oposição aos fatos, às pessoas e às coisas é que faz surgir a dor.

Aceite tudo o que lhe acontecer como vindo a seu benefício. Mais do que isso, seja agradecido a Deus. Não pense no mal. Nem se revolte.

A compreensão de que nada de mal nos acontece é segurança interior.

Edson Marques



Já imaginou se Jesus, em vez de fazer o Sermão da Montanha, tivesse saído para buscar fraldinhas descartáveis, ou comprar leite em pó, ou precisasse ter ficado em casa trocando o bujão de gás?
Já imaginou o "coitado" - chegando em casa à noite, exausto, depois de intensas reuniões com os apóstolos, e Maria Madalena, fritando bife, mãos na cintura, descabelada:
- Onde você esteve até essas horas???!!! O Junior tá queimando de febre...
Já imaginou?...

Fui o que ainda posso ser - Fabrício Carpinejar




Eu amo quando não me forço a existir. Reduzir meu corpo e o dela a um barco estreito e deixar todo o resto para o mar. O que falta fazer não me cansa. Ainda não cumpri tanta coisa, que não me apresso em pontuar. Farto-me de esperança. Vou imaginando devagarinho para não acabar. Gostaria de preparar as bainhas da calça dela com alfinetes e perguntar de baixo: está bom? Gostaria de descobrir em suas costas uma pinta de infância e conversar com a pinta com a calma de um biólogo. Gostaria de cumprir realmente uma surpresa, sem a ânsia de contar metade pelo caminho. Gostaria de dar presentes pouco interessado na retribuição. Gostaria de segurar a escada quando ela puxa as roupas de inverno do armário, não me preocupar com a demora e ajudar a escolher as peças que ainda prestam. Gostaria de chegar adiantado a um compromisso, sentar em alguma escada para que pudéssemos lembrar de músicas antigas e inventar o que foi salteado. Gostaria de encontrar restaurantes pequenos, desconhecidos, e beber o riso e rir da bebida. Gostaria de ser seu confidente, escutar o que ela diria ao meu respeito e concordar com as mudanças, desprezando a vaidade. Gostaria de reparar quando ela emprega uma palavra diferente e cuidar para não gastar tanto as velhas. Gostaria de adivinhar o que ela está pensando para devolver seu desejo antes dele tomar banho. Gostaria de cortar suas cutículas para entender sua solidão. Gostaria de soprar as formigas do pote de açúcar, cuidando para não transbordar o vento. Gostaria de perceber o momento em que o café e as giletes estão terminando. Gostaria de enterrar minhas mãos no bolso do casaco dela e esgarçar o forro. Gostaria de ser bem-humorado ao errar e mal-humorado ao acertar. Gostaria de dormir até tarde e só virar para prendê-la. Gostaria de deixar os vidros fechados antes da chuva. Gostaria de dar três voltas na chave e não esquecer que estou dentro de mim. Gostaria de parecer inteligente diante de pinturas abstratas. Gostaria que ela não perdesse os amigos para ficar comigo. Gostaria de levá-la ao cinema para depois recuperar as legendas em sua boca. Gostaria de me assustar mais seguido para procurá-la com veemência. Gostaria de recolher as migalhas da mesa e arremessar o alvoroço das aves pela sala. Gostaria de sussurrar comida na colher de pau. Gostaria de conduzir um táxi para comentar o tempo. Gostaria de espalhar cigarras e vaga-lumes pela grama e vê-la tropeçar em minha voz. Gostaria de ter sempre a sinceridade de quem sente fome.

poemito para você


Amo você porque você tem gosto de estrela, de palavra,
De silêncio, de tranqüilidade, de abraço e de poesia,
De chocolate, de saudade, de carinho, de loucura e de alegria,
Amo você porque você tem gosto, bom gosto,
O jeito doce e saboroso do amor bem posto...

Lacan




Não são todos os dias que se encontra o que é feito para lhe dar a imagem exata do seu desejo.

Drummond


Como nos enganamos fugindo ao amor! Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar sua espada coruscante, seu formidável poder de penetrar o sangue e nele imprimir uma orquídea de fogo e lágrimas. Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu em doçura e celestes amavios.Não queimava, não siderava; sorria.Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor que trazias para mim e que teus dedos confirmavam ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro, o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.

poemito para você




Meu olhar se multiplica por todos os cantos do seu espaço.

A cada novo passo, dois pares de olhos no seu encalço.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Sussurrando o amor no ouvido cego do mundo...

Fecundação - Gilka Machado


Teus olhos me olham
longamente,
imperiosamente...
de dentro deles teu amor me espia.


Teus olhos me olham numa tortura
de alma que quer ser corpo,
de criação que anseia ser criatura


Tua mão contém a minha
de momento a momento:
é uma ave aflita
meu pensamento
na tua mão.


Nada me dizes,
porém entra-me a carne a persuasão
de que teus dedos criam raízes
na minha mão.


Teu olhar abre os braços,
de longe,
à forma inquieta de meu ser;
abre os braços e enlaça-me toda a alma.


Tem teu mórbido olhar
penetrações supremas
e sinto, por senti-lo, tal prazer,
há nos meus poros tal palpitação,
que me vem a ilusão
de que se vai abrir
todo meu corpo
em poemas.