sábado, 8 de dezembro de 2007

Pablo Neruda



O pequeno príncipe

Saint-Exupéry

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira.

- Quem és tu? - perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer “cativar”?

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços...”

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?

- Sim.

- Há caçadores nesse planeta?

- Não.

- Que bom! e galinhas?

- Também não.

- Nada é perfeito, suspirou a raposa. Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco.
Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa nenhuma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
-Por favor... cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa nenhuma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou
.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estaria inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

poemito para você

Quero escrever no teu corpo com uma tinta invisível,

Pois assim não precisarei ler no dia seguinte e

Terei vontade de escrever novamente...

poemito para você

O meu AMOR por ti é Tropa de Elite.

Quem não viu, já ouviu falar e quer ver.

Quer ser contagiado.

Quem já viu, quer rever.

Quer saber como foi construído.

A história dos personagens.

Todo o making off.

Quer saber se vai ser feito um segundo

E eu digo:

Difícil acerta duas vezes assim...

Receita para se esquecer um grande amor

Marcelo Maroldi
Às vezes eu fecho os olhos, inspiro e procuro sentir a presença de quem já não está por perto. É um método que eu inventei tempos atrás..., e uso sempre quando o amor se transforma em saudade.

Os grandes amores existem. As grandes paixões existem. Eles existem. Eles simplesmente existem. Eu desejo que todo ser humano possa sentir o que eu um dia já senti. Somente uns poucos minutos daquele entorpecimento juvenil, daquela inundação de sentimentos que enlouquecem, daquela loucura toda que te envolve, te amedronta, aquela confusão monstruosa que vivi quando amei. E quando fui amado. Uma paixão avassaladora que me fez acreditar que eu ainda permanecia vivo. Vivo e amando. E amado. Mas, agora, eu fecho os olhos para dormir. A cama cresceu tanto de tamanho, o meu peito cada vez está menor. E muito mais vazio. Ninguém a me ninar. A minha mão não encontra a sua. Quem foi que viu a minha Dor chorando?! (Augusto dos Anjos, "Queixas Noturnas". Mas, no meu caso, diurnas também). Eu quero uma receita para se esquecer um grande amor, o senhor tem aqui para vender? O preço não me interessa, eu só quero poder seguir em frente. Nem precisa ser em frente..., basta seguir. Porque A minha vida sentou-se/ E não há quem a levante (Mário de Sá-Carneiro, "Serradura").

E o vazio logo aparece, não dá um minuto de folga (“meter a cara no trabalho” é algo que também não tem funcionado). O telefone não toca naquela hora, a minha caixa de e-mails não tem pena de mim, já não tem novidade boa a me contar. Uma sensação leve e prematura de derrota logo se apodera da gente. Depois ela cresce. Já não é mais sensação, é derrota mesmo. Eu não tenho mais para quem escrever os meus defeituosos poemas, a quem dedicar meus pensamentos, quem vai me acalmar quando a agonia aparece sem avisar? Eu me sinto tão sozinho. Por vezes eu nem me sinto. Meus olhos não vertem lágrimas, o meu coração não dispara. Será mesmo que estou vivo? Ainda nem maldisse toda a minha sina e mazela, nem afoguei minhas (agora) crônicas mágoas na cachaça libertadora, também não há outro perfume no meu corpo. Viver é amar, um dia me explicaram direitinho. Eu era inocente e acreditei. Só inocentes e tolos crédulos aprendem isso, eu tive o azar de ser um deles. Nem ouso reclamar.

Quando acordei foi em você que eu pensei. Provavelmente pensei em ti durante toda a noite também, mas dessa vez tive a sorte de não recordar. Não importa como minha vida esteja seguindo, é sempre em seu sorriso que meus pensamentos se convergem. Não há fuga nem plano B. Eu aprendi que não é te esquecendo que irei me livrar de você. Não importa quanto tempo transcorra, jamais me esquecerei daquela noite, aquela, quando estupefata você ouviu minha curtíssima e derradeira declaração de amor. Metade do tempo eu reflito sobre o que ela significou e o que ela irá se tornar em alguns parcos anos. Logo, meu coração será de outra, as suas coisas queimarei no quintal (afastando a cachorra para que não se queime) e essa frase eu voltarei a dizer. Mas não para ti, jamais para ti, nunca mais para ti... Você será apenas uma lembrança, feito tantas outras, e eu serei apenas uma lembrança para você... feito tantas outras. Já não me amas? Basta! Irei, triste, e exilado/ Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho (Olavo Bilac, "Desterro").

Quem errou mais? Isso não importa agora, logo, posso ficar com toda culpa pelo nosso fracasso. Sempre sonhei com algo diferente, como nos contos de fadas e nos pagodes de três notas (e se me perguntam Que era mesmo que eu queria?/ ”Eu queria uma casinha/ Com varanda para o mar/ Onde brincasse a andorinha/ E onde chegasse o luar”, Vinicius de Moraes, "Sombra e Luz"). A realidade foi deveras distinta disso, só Deus é testemunha das minhas queixas. Mas, nesse momento, nada disso importa, nada do que doeu agora importa. Eu vou ficar aqui, sozinho, com minhas lembranças e nosso fracasso. Vou lembrar das partes boas, para me emocionar com a saudade. Não lembrarei de nenhuma briga, nem nada disso! Eu quero uma receita para esquecer dos momentos ruins, dos bons eu não preciso. Não preciso e não quero. Para que esquecer do que me orgulho? Do que me fez feliz? Deixa a saudade me machucar, meu anjo, uma hora ela se cansa. Eu não abro mão de recordar o quanto fomos felizes. Acabou, mas não sem muito amor. É o fim, mas não antes de muitas promessas de eterna felicidade. É isso o que vale, afinal. Eu busco isso a cada instante de minha vida.

Mas agora ele está lá e eu aqui. Ele está lá seguindo a vida dele, e eu estou aqui, seguindo a minha. Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte (Neruda, "Aqui eu te amo"). Ela esta lá vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido. Acho, realmente não sei dizer (Teus olhos são duas silabas/ Que me custam soletrar./ Teus lábios são dous vocábulos/ Que não posso,/ Que não posso interpretar Fagundes Varela, "Canção Lógica"). Eu aqui, não triste, mas saudoso. Às vezes eu olho para os céus para descobrir se sinto algo de novo. Quem sabe um daqueles meus suspiros. Passo horas olhando as estrelas, sem entender por que elas brilham. Elas deveriam fazê-lo somente quando você fosse minha, não em qualquer situação. Mas você segue a sua vida, almoça feliz e se diverte enquanto procuro a receita para te esquecer. Sei que não irei sofrer, o que me castiga é a saudade. Não irei chorar, nem lamentar, tampouco desejar a morte. Irei apenas seguir em frente, sozinho agora, às vezes pensando: o que será que ela faz nesse momento?, agora que chove lá fora! O que será que ela faz? Será que pensa em mim? Será que sorri? Eu abro os braços para envolver a minha vida.

Lembra da música da Elis? Vou querer amar de novo e se não der eu não vou sofrer...? Preciso te dizer a verdade: se isso acontecer, eu vou sofrer sim, meu coração só existe para amar de novo, espero que você entenda. Eu sigo a minha vida por aqui, você continue a sua por aí. Se consegui a receita para se esquecer de um grande amor? Não, parece que isso não existe mesmo. A minha é seguir em frente, então, e quando não der, chorar, não há problema nenhum isso, quem aprende a amar, aprende a chorar também (Paulinho da Viola, "Amor Amor") . Eu aprendi, pratiquei contigo, jamais te esquecerei.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Paralamas do Sucesso

Aonde quer que eu vá...

Olhos fechados
Prá te encontrar
Não estou ao seu lado
Mas posso sonhar
Aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá...

Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá...

Longe daqui
Longe de tudo
Meus sonhos vão te buscar
Volta prá mim
Vem pro meu mundo
Eu sempre vou te esperar
Lará! Larará!...

Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

“Prisioneiro", dize-me, quem foi que fez essa inquebrável corrente que te prende?”, perguntava Tegore.

“Fui eu”, disse o prisioneiro,

“fui eu que forjei com cuidado esta corrente”.

"O amor egoísta toma, muitas vezes, um ar desinteressado: é quando está querendo fazer ao amado alguma concessão com o fim de guardá-lo prisioneiro. Mas este é o supremo egoísmo, comprar o que é melhor duma pessoa, a sua liberdade, a sua integridade, a dignidade de pessoa autônoma ao preço de bens muito inferiores". (Thomas Merton)

Amor Próprio



domingo, 18 de novembro de 2007

Clarice Lispector

Sou composto por urgências:
minhas alegrias são intensas;
minhas tristezas, absolutas.
Me entupo de ausências, me esvazio de excessos.
Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos.
Eu caminho desequilibrado, em cima de uma linha tênue entre a lucidez e a loucura.
De ter amigos eu gosto porque preciso de ajuda pra sentir, embora quem se relacione comigo saiba que é por conta-própria e auto-risco.
O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina.
E a minha lucidez é que é perigosa.








quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Fabrício Carpinejar

CIÚME E CIÚMES

Ciúme mata. Ciúme ressuscita línguas mornas.
Quem não mentiu por ciúme?
Quem não falou a verdade por ciúme?
Ciúme pode aumentar o amor.
Ciúme pode arrebentar o amor.
Foi pelo ciúme que descobri que amava. Foi pelo ciúme que descobri que odiava.
O ciúme tranqüiliza. O ciúme atormenta.
Por ciúme, cometi a mais imprudente declaração. Por ciúme, cometi o pior dos vexames.
O ciúme é o agente infiltrado. Dois patrões (a virtude e o defeito), dois empregos (a paixão e o desespero), dois salários (o início e o fim).
É um cargo-fantasma. Recebe por fora. Trafica informações para a paranóia e neurose. Mantém a loucura atenta. Exerce contrabando nas calçadas de casa, soltando quinquilharias nos tapetes do corredor. Vende artigos pirateados e fornece notas fiscais falsas.
Ciúme é doentio. Mas sem ciúme não seremos normais. Longe dele, somos insensíveis. Com ele, sensíveis em excesso.
sofri de ciúme e ciúmes.

Ciúme no singular é o inteligente, o velado, o contido, ajuda a sedução. Alegria de ser reparado. Quando a namorada demonstra preocupação pela primeira vez. Ciúme para cumprimentar e desaparecer. Não permanece incomodando e tomando conta da conversa, dos programas, dos horários.
Ao insistir e cobrar explicações, deparamos com o ciúme burro, ciúmes, o que não se pia de vergonha, o descarado, o preconceituoso, que destrói a empatia.
Ciúme inteligente é próprio da fagulha, mal e mal forma uma pontada. Não chega a abrir escritório. É pessoa física. Quase um charme se não fosse uma necessidade de prestar atenção.
A mulher fareja o comportamento estranho do namorado, disposto em reuniões e desculpas despropositadas. Evita o questionário mais severo, e vai aparecendo nos lugares em que ele menos espera. O ciúme inteligente provoca o terror em quem está provocando o ciúme.
(Um homem traindo ressuscita amigos antigos porque lhe faltam álibis. De repente, encontra colegas do Ensino Fundamental, do Médio, da faculdade, do futebol, para explicar atrasos. Sua vida só será igualmente numerosa no enterro).
Se ele anda aprontando, ela não menciona nada. Não prepara chantagem e escândalo, não valoriza a fuga. Inibe as tramas ilícitas ao surgir de surpresa e mostrar confiança. Ele não terá provas de que ela desconfia.
Ciúme inteligente esconde o nervosismo. A tendência é perder a paciência e descambar para a briga sobre o-que-está-acontecendo-conosco.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A Mente e o Significado da Vida

"Quando você se sente bem se coloca na freqüência que quer."

Gosta de alguém


“Não gostes do amor, gosta de alguém que te ame, alguém que te espere alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura; de alguém que te ajude que te guie que seja o teu apoio, a tua esperança, o teu tudo. Gosta de alguém que não te traia, que seja fiel, que sonhe contigo, que só pense em ti, que só pense no teu rosto, na tua delicadeza, no teu espírito e não no teu corpo nem nos teus bens. Gosta de alguém que te espera até o final, de alguém que seja o que tu escolheres. Gosta de alguém que sofra contigo, que ria junto de ti, que limpe as tuas lágrimas, que te abrigue quando necessário, que fique feliz com as tuas alegrias e que te dê forças depois de um fracasso. Gosta de alguém que volte pra conversar contigo depois das brigas, depois do desencontro, de alguém que caminhe junto a ti, que seja companheiro, que respeite tuas fantasias, tuas ilusões. Gosta de alguém que te ame. Não goste apenas do AMOR, goste de alguém que sinta o mesmo sentimento por ti, que goste realmente de TI!”

O Tamanho das Pessoas


"Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme para você, quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena para você quando só pensa em si mesma, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade, o respeito, o carinho, o zelo e até mesmo o amor.
Uma pessoa é gigante para você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto com você. É pequena quando desvia do assunto. Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês. Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas. Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes. Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande... É a sua sensibilidade sem tamanho..."

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

poemito para você

Para se fazer uma noite com solzinho é necessário

uma dança, uma lua cheia e sua companhia.

Mas sua companhia me basta se a lua se afasta...

Sobre o amor

O Livro de Mirdad


Não espereis recompensa do Amor. O Amor é, em si mesmo, recompensa suficiente para o Amor, assim como o ódio é, em si mesmo, castigo bastante para o ódio.

Não peçais contas ao Amor, pois o Amor não presta contas senão a si mesmo.

O Amor não empresta nem pode ser emprestado; o Amor não compra nem vende; mas quando dá, ele dá-se todo inteiro; e quando toma , toma tudo. E seu dar-se é tomar. Consequentemente é o mesmo, hoje, amanhã e sempre.

Assim como um poderoso rio que se esvazia no mar é reabastecido pelo mar, assim deveis esvaziar-vos no Amor para que sejais para sempre enchidos de Amor.

A lagoa que retém o presente que o mar lhe dá, torna-se uma lagoa de água estagnada.

Não há "mais" nem "menos" no Amor. No momento em que tentardes graduar e medir o Amor, ele desaparecerá , deixando só amargas recordações. Nem há "agora" nem "depois", ou "aqui"e "acolá" no Amor. Todas as estações são estações do Amor. Todos os locais são próprios para serem habitados pelo Amor.

É claro e penetrante o olhar do Amor. Por isso ele não vê faltas. Quando o Amor houver purificado vossa visão, não vereis jamais nada que não seja digno de vosso Amor. Só uma vista despojada de Amor, um olho faltoso, está sempre ocupado em encontrar faltas, e quaisquer faltas que encontre, serão suas próprias faltas.

O Amor integra. O ódio desintegra. Mesmo vosso corpo, perecível como parece ser, resistiria à desintegração, se amásseis com a mesma intensidade cada uma das células que o constituem.

O Amor é paz cheia de melodias da vida. O ódio é a guerra ansiosa pelos satânicos golpes da morte.

Que preferis: o Amor para gozardes a paz eterna, ou o ódio para estardes sempre em guerra?

Toda a terra está viva em vós. O Céu e suas hostes estão vivos em vós. Amai, pois, a terra e todos os seus habitantes, se amais a vós mesmos.


domingo, 28 de outubro de 2007

Fabrício Carpinejar

COBRANÇAS

Pedir um abraço, cobrar um beijo e exigir carinho não combinam com o amor. A cobrança aniquila com a possibilidade de oferecer e de receber o afeto. Como beijar depois de escutar "não me dás mais beijo"? Como transar depois de ouvir "não transas mais comigo"? O que é voluntário vai parecer obrigatório, o que é escolha vai parecer induzido, o que é vontade vai parecer condicionamento. Por que transformar a convivência em coleta de impostos? Será que não se está levando o trabalho para casa, a empresa para a casa, o demônio do cartão-ponto para dentro da carne? Qual é o prazer de pressionar, de impor resultados e regras, de controlar o que é para ser incontrolável? Por que difamar a única verdade que se tem?

É fácil perguntar, difícil é ouvir a resposta sem se mexer, até o final. É fácil atacar para aumentar a culpa, difícil é compreender sem defesas. Cobrar afeto é pior do que agredir fisicamente. Incha mais do que um tapa na cara. É cortar as palavras mais do que os lábios. Assume-se a condição de credor, como se o amor fosse uma dívida. Assume-se uma posição superior em relação ao cobrado. Uma posição hierárquica, de chefe reivindicando o cumprimento dos prazos. Não se cobra o que é espontâneo. Entra-se no solo movediço e insano do recalque. O recalque é uma carência que não conversa mais. É uma carência arrogante, cleptomaníaca, que furta do amor para gastar com a solidão.

Não estou me referindo ao ciúme. A cobrança por afeto não decorre do ciúme, da insegurança, mas se origina no excesso de segurança que beira o autoritarismo. Representa a posse, a mania totalitária de não permitir as imperfeições e desejos contrários. Ah, se a pessoa com quem amamos não está a fim de um beijo ela não me ama mais! Que exagero infantil. Toda hora se deseja ouvir 'eu te amo" como se o amor fosse chiclete para ocupar a boca. Talvez seja mais linguagem de sinais. Depende de reciprocidade, de atmosfera, do outro estar com a cabeça leve e descomplicada para fluir. Não depende só da gente. Nem sempre se está disposto a viver em voz alta. Há períodos destinados a sussurros e cochichos.

Não se pode amar por caridade ou por orgulho, senão cobraremos. Assim como é necessário diferenciar a expectativa do amor, a euforia da alegria, a depressão da dor, pois são sentimentos bem diferentes.

Deve-se tomar cuidado para que não seja criado dentro alguém que não existe fora. Ou criar fora alguém que não existe dentro. O amor não é versão de Windows que é atualizado a cada ano para girar mais rápido. O amor é lento mesmo.