sábado, 29 de dezembro de 2007

FELIZ ANO NOVO! FELIZ OLHAR NOVO!

Autor desconhecido

A grande jogada da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história. O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e o AGORA.

Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais... mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho? Quero viver bem. E você?

2007 foi um ano cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal. Às vezes se espera demais das pessoas. Normal.

A grana que não veio, e quando veio só deu para pagar o atrasado. O amigo que decepcionou... O amor que acabou, mas ficou corroendo! Normal.

2008 não vai ser diferente. Muda o século, o milênio muda, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança? Lembre-se de ontem ou, anteontem. Foi pior ou melhor?

O que eu desejo para todos nós é sabedoria! E que todos saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Assim, o futuro chega menos sombrio, cheio de graça, com uma dose forte de vencer.

Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado, o amigo travesso, a namorada que perdemos, o devedor que nos enganou... Eles passam na sua vida. Não podem ser responsáveis por tantos dias ruins..

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa para esse momento (me lembro sempre de um pensamento que eu levo a sério: CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE).

Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.

Desejo para todos, no mundo esse olhar especial. 2008 pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar.

Somos egoístas, mas podemos entender o outro. 2008 pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular ou... Pode ser puro orgulho! Depende de mim, de você! Pode ser. E que seja!!! Feliz olhar novo!!

Por fim, você ainda quer um 2008 Feliz, uma vida melhor……..? então, lute, seja persistente, esteja o tempo que for possível Bem Humorado, Contemple a Vida, Sorria, Viva !!!! Viva !!!!! Viva !!!!.

Saúde, Felicidades e Realizações !!!!

Que nunca deixemos de sonhar; e que todos os nossos sonhos se tornem realidade.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

FELIZ ANO NOVO!

Bráulio Tavares

Não peça nada a Deus. Seria um contra-senso Deus fazer algo por você. Digamos que o Mundo estava com problemas, pediu a Deus que mandasse algum tipo de ajuda, e Deus mandou você. Agora, é entre você e o Mundo. Te vira, véi.

Não peça nada ao Destino. Esta é uma grave contradição filosófica, daquelas de fazer Aristóteles se revirar na tumba. “Destino” é um futuro que já aconteceu, que não pode mais ser modificado. Não perca seu tempo.

Não peça nada ao Acaso. O Acaso é quem governa este Universo, e é da natureza dele não escutar pedidos, mas aceitar interferências. Interfira, aja, interrompa, redirecione, transforme. O Acaso agradece.

Não peça nada aos Santos. Santo não é quem toma providências: quem toma providências é médico, bombeiro, mecânico, assistente social... Santo é quem sofre sem se queixar. Deixe que sofram em paz.

Não peça nada ao Governo. O Governo é um brontossauro de cinqüenta patas e trinta pescoços, caminhando aos trancos e barrancos através da jângal antediluviana. Esperar dele alguma coisa que se aproveite equivale a subir pela sua cauda e ir morar numa choupana em seu dorso, tentando convencê-lo a seguir no rumo desejado. Esquece. Melhor ir a pé.

Não peça nada aos Bancos. Por definição, Bancos só dão remédio a quem vende saúde, só mandam marmitas gratuitas para os donos de restaurantes, e só oferecem absolvição espiritual aos cardeais do Vaticano.

Não peça nada às Autoridades. Autoridades são programadas apenas para obedecer ordens. Ou você tem cacife pra já chegar falando grosso, ou então é melhor deixar pra lá.

Não peça nada à Mídia. A Mídia acha que o anonimato é contagioso, e que a Fama também. Olhe pra trás, e veja se ela está indo no seu rastro ou não. Problema dela.

Não peça nada à Sorte. Sorte foi feita pra gente abrecar pela abertura, encostar no canto da parede, e dizer a que veio. Se você tiver pegada, a Sorte se derrete todinha.

Não peça nada à Humanidade. Ofereça e faça antes que ela peça. Existe no Universo uma Lei de Conservação da Energia Psíquica. Mais cedo ou mais tarde alguém fará o mesmo com você.

E pronto. Feliz ano-novo, bibibi, bobobó. Vá à luta, meu camaradinha. Tá olhando o quê?

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Feliz Natal!

Frei Beto

Feliz Natal a quem não planta corvos nas janelas da alma, nem embebe o coração de cicuta e ousa sair pelas ruas a transpirar bom-humor.

Feliz Natal a quem cultiva ninhos de pássaros no beiral da utopia e coleciona no espírito as aquarelas do arco-íris. E a todos que trafegam pelas vias interiores e não temem as curvas abissais da oração.

Feliz Natal aos que reverenciam o silêncio como matéria-prima do amor e arrancam das cordas da dor melódicas esperanças. Também aos que se recostam em leitos de hortênsias e bordam, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura.

Feliz Natal aos que trazem às costas aljavas repletas de relâmpagos, aspiram o perfume da rosa-dos-ventos e carregam no peito a saudade do futuro. Também aos que semeiam indignações, mergulham todas as manhãs nas fontes da verdade e, no labirinto da vida, identificam a porta que os sentidos não vêem e a razão não alcança.

Feliz Natal a todos que dançam embalados pelos próprios sonhos e nunca dizem sim às artimanhas do desejo. Aos que ignoram o alfabeto da vingança e jamais pisam na armadilha do desamor, pois sabem que o ódio destrói primeiro a quem odeia.


Feliz Natal a quem acorda, todas as manhãs, a criança adormecida em si e, moleque, sai pelas esquinas quebrando convenções que só obrigam a quem carece de convicções. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé.

Feliz Natal a quem recolhe cacos de mágoas pelas ruas a fim de atirá-los no lixo do olvido e guardam recatados os seus olhos no recanto da sobriedade. A quem resguarda-se em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo.

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar e se recusam a ser reféns do pessimismo.

Feliz Natal aos que fazem do estrume adubo de seu canteiro de lírios. Também aos poetas sem poemas, aos músicos sem melodias, aos pintores sem cores e aos escritores sem palavras. E a todos que jamais encontraram a pessoa a quem declarar todo o amor que os fecunda em gravidez inefável.

Feliz Natal aos ébrios de transcendência e aos filhos da misericórdia que dormem acobertados pela compaixão. E a todos que contemplam ociosos o entardecer, observando como o Menino entra na boca da noite montado em seu monociclo solar.

Feliz Natal a quem não se deixa seduzir pelo perfume das alturas e nem escala os picos em que os abutres chocam ovos. E a todos que destelham os tetos da ambição e edificam suas casas em torno da cozinha.

Feliz Natal a quem, no leito de núpcias, promove uma despudorada liturgia eucarística, transubstanciando o corpo em copo inundado do vinho embriagador da perda de si no outro. E a quem corrige o equívoco do poeta e sabe que o amor não é eterno enquanto dura, mas dura enquanto é terno.

Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão e convocam os famélicos à mesa feita com as tábuas da justiça e coberta com a toalha bordada de cumplicidades.

Feliz Natal aos que secam lágrimas no consolo da fé e plantam no chão da vida as sementes do porvir. E aos que criam hipocampos em aquários de mistério e conhecem a geometria da quadratura do círculo.

Feliz Natal a quem se embebeda de chocolate na esbórnia pascal da lucidez crítica e não receia pronunciar palavras onde a mentira costura bocas e enjaula consciências. E a todos que, com o rosto lavado das maquiagens de Narciso, dobram os joelhos à dignidade dos carvoeiros.

Feliz Natal a todos que sabem voar sem exibir as asas e abrem caminhos com os próprios passos, inebriados pelos ecos de profundas nostalgias. E aos que decifram enigmas sem revelar inconfidências e, nus, abraçam epifanias sob cachoeiras de magnólias.

Feliz Natal aos que saboreiam alvíssaras nos bosques onde vicejam anjos barrocos e nadam suas gorduras deixando os cabelos brancos flutuarem sobre a saciedade de anos bem vividos. E a todos que dão ouvidos à sinfonia cósmica e, nos salões da Via Láctea, bailam com os astros ao ritmo de siderais incertezas.

Feliz Natal também aos infelizes, aos tíbios e aos pusilânimes, aos que deixam a vida escorrer pelo ralo da mesquinhez e, no calor de seus apegos, vêem seus dias evaporar como o orvalho aquecido pelo alvorecer do verão. Queira Deus que renasçam com o Menino que se aconchega em corações desenhados na forma de presépios.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Livro Lavoura Arcaica - trechos

Raduan Nassar

O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é, contudo nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo, entretanto prover a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo(...) o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve por nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é; (... ) Porque só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas.

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"(...)e as pombas do meu quintal eram livres de voar, partiam para longos passeios, mas voltavam sempre, pois não era mais do que amor o que eu tinha e o que eu queria delas, e voavam para bem longe e eu as reconhecia nos telhados das casas mais distantes entre o bando de pombas desafetas que eu acreditava um dia trazer também pro meu quintal imenso (...)"

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(...) alguém baixou com suavidade minhas pálpebras, me levando, desprevenido, a consentir num sono ligeiro, eu que não sabia que o amor requer vigília.

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Era Ana, era Ana, Pedro, era Ana a minha fome (...) era Ana a minha enfermidade, ela a minha loucura, ela o meu respiro, a minha lâmina, meu arrepio, meu sopro, o assédio impertinente dos meus testículos (...)

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Meu pai sempre dizia que o sofrimento melhora o homem, desenvolvendo seu espírito e aprimorando sua sensibilidade; ele dava a entender que quanto maior fosse a dor tanto ainda o sofrimento cumpria sua função mais nobre; ele parecia acreditar que a resistência de um homem era inesgotável.

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(...) toda palavra, sim, é uma semente; entre as coisas humanas que podem nos assombrar, vem a força do verbo em primeiro lugar...

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Solte as rédeas dos teus olhos ( ...)

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(...) não tenho culpa desta chaga, deste cancro, desta ferida, não tenho culpa deste espinho, não tenho culpa desta intumescência, deste inchaço, desta purulência, não tenho culpa deste osso túrgido, e nem da gosma que vaza pelos meus poros, e nem deste visgo recôndito e maldito, não tenho culpa deste sol florido, desta chama alucinada, não tenho culpa do meu delírio.

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(...) de mãos dadas, iremos juntos incendiar o mundo!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Sigur Ros - Glósóli

Se eu pudesse escolher um vídeo que traduzisse, o mais perto, o que tento fazer com a minha vida, a minha escrita e com as pessoas lindas que as palavras me trazem, seria este. Sem dúvida...

Nkosi sikelel Afrika - Um canto contra a segregação racial.

Nkosi Sikelel' iAfrika
Maluphakmis' uphondo lwayo
Yizwa imithandazo yethu
Nkosi sikelela, Thina lusapho Iwayo
Morena boloka Sechaba sa heso
O fedise dintwa le matswenyeho
Morena boloka sechaba sa heso
O fedise dintwa le matswenyeho
O se boloke, o se boloke
O se boloke morena, se boloke
Sechaba sa heso, Sechaba sa Afrika
Nkosi Sikelel' iAfrika
Maluphakmis' uphondo lwayo
Yizwa imithandazo yethu
Nkosi sikelela, Thina lusapho Iwayo

Camille Au port Taratata

Elle est vrémen tro forte! moi personnellement j'aodre ce qu'elle fait!

Traduzindo:muito booommmm!!!
Bem original...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Adélia Prado
Fui dormir umas vezes, tão feliz, que, se soubesse minha força, levitava. Em outras, tanta foi a tristeza que fiz versos.
Álvaro de Campos
Minha dor é velha como um frasco de essência cheia de pó. Minha dor é inútil como uma gaiola, numa terra onde não há aves, e minha dor é silenciosa e triste como a parte da praia onde o mar não chega...

IRA! - Entre seus rins

Te amo!
Isso eu posso te dizer
Como eu gosto de você
Como eu gosto de você...

Te quero!
Isso é tudo que eu sei
Que eu gosto de você
Ah! Como eu gosto de você...

O que eu sinto
Não é difícil explicar
É o amor
Como uma fonte a jorrar
Pura emoção...

E o meu sonho
Nem consigo me lembrar
Mas o certo
É que você estava lá
Sonho real!
Sonho real!...

Seu beijo!
Minhas mãos em seu quadril
Madrugada tão febril
Ah! Como eu gosto de você...

Meu exílio!
É em seu corpo inteiro
És meu país estrangeiro
Ah! Como eu gosto de você...

Me deu o dedo
Eu quis o braço e muito mais
Agora estou a fim
De ficar entre os seus rins...


Cecília Meireles
Todos os espetáculos de beleza que a vida não nos deixou realizar sairão, portanto, do mistério que os oprime, com a força invencível das ressurreições.

O vestibular da fossa

Fabrício Carpinejar

Superar uma dor de amor é o equivalente a estudar para o vestibular. Tranca-se no quarto, são recusados convites para sair e se divertir, a história pessoal é revisada, sublinhada e decorada à exaustão. Não mais o esporte, não mais as festas, não mais os bares. Os únicos amigos preservados são os travesseiros. Fala-se pouco, come-se devagar, experimenta-se um emagrecimento involuntário que dá mais certo do que uma dieta consciente. Aquela sonhada perda de sete quilos realmente acontece, na hora e no jeito errados. Não festejamos, não percebemos, não alardeamos a forma física, a tristeza encabula o corpo. Somos um par de olheiras e uma boca confusa. As reticências do período tanto podem ser suspiros como gemidos.

A única missão que resta é estudar, não para seguir uma profissão. Estudar para seguir a própria vida. Estudar para se manter de pé ou definitivamente cair. Na dor do amor, o desejo é chegar ao fundo de si, mas o fundo de si está na pessoa que deixou de nos amar. E nunca se chega ao fim. O fim não está mais com a gente. Foi junto com quem traiu a fidelidade que acreditávamos.

A dor do amor oferece igual preparação de uma prova difícil. Uma prova que não importa a doação, o resultado é conhecido. O que se queria já se perdeu. Um vestibular que significará esforço e não celebração. Um vestibular onde se é desclassificado antes da inscrição.

Não cumprimos a rotina, mal e forçosamente ficamos de pé. Os pijamas e abrigos pedem na Justiça a guarda da pele. É um luto sem enterro. Um luto sem cadáver. Um luto sem missa de sétimo dia. Um luto sem familiares se aproximando e tentando consolar. Um luto sem pêsames e garantia social. Um luto obrigado a trabalhar no dia seguinte. Um luto que não se explica. Um luto que não merece nem um anúncio de jornal para avisar que acabou. Um luto em que o sofredor poderá se encontrar com seu sofrimento em carne e osso na próxima esquina.

Acorda-se com a sensação de pesadelo, dorme-se com a sensação de pesadelo. Fase de transição, em que se confia sinceramente que nada será melhor do que antes. Quem tinha humor fica cínico. Chora-se no princípio com força, depois o choro é um hábito, perde a concentração e vira um resmungo intermitente. Não se faz outra coisa senão a de remoer o tempo, de repisar fotografias, vídeos, cartas. Reler e revisar o que foi esquecido no Ensino Fundamental e Médio. São meses de exílio, de sacrifício, a mostrar que se é capaz de sofrer a sério por alguém e abdicar do que se mais gostava.

A fossa do amor não é uma encenação. Ao passar por ela, termina a confiança irrestrita, a esperança ingênua. As pessoas que sofreram esse descompasso são reconhecíveis de longe. Não se alegrarão de todo. Uma saudade vai retirar a velocidade dos ouvidos. Não se abrirão de novo como uma vitória-régia. Têm uma sutileza que as diferenciam dos demais, o tolhimento do abandono. E poderão no futuro amar melhor porque não mais estarão sozinhas. Estarão sempre conversando e consultando sua dor.

Adélia Prado
É tão breve tudo, a estrela risca o céu de escuro a escuro e findou-se a vida.
Roland Barthes
Um outro dia, embaixo da chuva, esperamos um barco à beira de um lago; a mesma lufada de aniquilamento me atinge, desta vez por felicidade. Assim, às vezes, a infelicidade ou a alegria desabam sobre mim, sem nenhum tumulto posterior, nenhum outro sentimento: estou dissolvido, e não em pedaços: caio, escorro, derreto. Este pensamento levemente tocado, experimentado, tateado como se tateia a água com pé pode voltar. Ele nada tem de solene. É exatamente a doçura.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Um World Trade Center no meu coração

Maitê Proença

Será que a morte resolve? Não quero que sofra dores. Há épocas em que estou lúcido e - cato o saco de motivos que me deu, e vasculho até entender o porquê, não entendo. Mas há outras em que me falha a memória e a saudade me traz você bom, adorável. Aí amo e amo e amo até me perder na ilusão. Só vou reaver-me dias depois, já de joelhos vasculhando o chão à procura de minha vida. Nessas horas, daria o senso de humor e um dedo mindinho para saber o que você anda pensando aí nas distâncias. Pensa na Guerra do Iraque? Nos planetas não descobertos? Deseja aprender o chinês? Pensa em mim quando acorda? E quando vai dormir? Inventa casas para morarmos, planeja viagens pelo Tibet, escolhe veleiros para atravessarmos o Pacífico?
Preciso tanto arrumar tempo para aprender a te querer menos, mas ando muito ocupada remendando um coração partido. É tarefa longa, não costuro bem. E longa é a avenida de clichês que se engarrafam no rush da minha cabeça. Amor burro.
Às vezes me assolam desejos insanos. Quero subir no farol da praia e gritar seu nome bem alto. Quero pichar o Pão de Açúcar com versos apaixonados. Desejo plantar bandeiras de amor nos arranha-céus de Xangai e anseio por lavar o chão da rodoviária de São Paulo ou marchar sobre os cotovelos, se isso tornar provável nossa história impossível.
E tem dias de decisões. Nenhuma lágrima mais, nenhum lamento! Plantarei um World Trade Center inatacável dentro do meu coração. Cavalgarei quatro luas no cavalo que você me deu para a noite engolir o escuro que há dentro de mim. Acenderei uma alameda de velas para te celebrar. No dia de teus anos, acompanhada dos seres que amam sem medo, vou, em procissão, pedir à Mãe que te liberte para amar assim. Pedirei também que sua vida seja boa e feliz. E construirei uma capela na colina mais bonita, para lembrar a Deus que tenho esperanças. Sento ali e espero um milagre. E depois de 50 anos, se nada acontecer, morro eu, cansada por sofrer dores físicas a cada dia que meu corpo gritou pelo seu.
E olha que eu só queria andar de mãos dadas e viver contente a seu lado.

Namorado: ter ou não, é uma questão...

Carlos Drummond de Andrade

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não renumeradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.


Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil, mas namorado mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira: Basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhar quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra junto.

Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosque enluarado, ruas de sonhos ou musicais da metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de o seu bem ser paquerado.

Não tem namorado quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim-de-semana, na madrugada ou no meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir com ele.

Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a roupa mais leve e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fadas. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça.


sábado, 15 de dezembro de 2007

O BAIXO IMPÉRIO ROMANO - HISTÓRIA

"Entre outros exercícios de espírito, o mais útil é a história."
(Cayo Salústio Crispo)

Vídeo-aula que eu criei para uma das minhas aulas sobre o Império Romano e postado no youtube pelo professor Saulo.Agora presente no meu blog.

"Todos sabem fazer história - mas só os grandes sabem escrevê-la."
(Oscar WIlde)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007