
- O quê?
- Vai acabar...
- Eu sei.
- E, então?
- O quê?
- O que vamos fazer?
- ...
- Silêncio, o dia vai dormir...
- Aproveitemos...
Em futuro estudo a ser publicado em conceituada revista do meio científico, será comprovada não só a existência, mas os índices alarmantes da incidência da cárie cerebral. O fenômeno, que atinge povos de todos os países, tem como uma das suas principais causas, como é de se esperar, os péssimos hábitos alimentares das populações, cultivados, principalmente, através do consumo de enlatados americanos, novelas açucaradas e toda a sorte de (conceitos) embutidos. A fim de evitar a extração do órgão sob risco de seqüelas irreversíveis, como por exemplo, o pensamento banguela, recomenda-se expressamente o uso continuo e correto do fio mental. E da escova de mentes. Vamos juntos fazer do Brasil um país de sorriso branco e preto e mulato e cafuzo e índio e... hálito mestiço!
Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo.
Hoje é o Dia Internacional da Mulher, que na prática não ajuda a mudar muita coisa, mas ao menos serve para reflexões, debates e crônicas temáticas. O que valeria a pena discutir hoje? Proponho um assunto sem relevância política, mas igualmente importante: o recheio. Tudo o que temos retirado de nós, tudo o que tem sido lipoaspirado de nossas vidas. Já fomos mais silenciosas. Mas, ao ganhar o direito à voz, nos tornamos mulheres aflitas, que não se permitem um momento de quietude. Falamos, falamos, falamos compulsivamente, como se fosse contra-indicado guardar-se um pouco, como se o silêncio pudesse nos inchar. Já sofremos com mais pudor. Hoje nossas deprês são extravasadas, distribuídas, ofertadas, viram capa de revista, como se a dor fosse uma inimiga a ser despejada, como se o sofrimento fosse algo venenoso e necessitasse de expulsão, como se não valesse a pena alimentar-se dele e através dele crescer. Já fomos mães mais atentas, que geravam por mais tempo, por bem mais do que nove meses. Levávamos os filhos dentro de nossas vidas por longos anos. Hoje temos mais pressa em entregá-los para o mundo, a responsabilidade pesa, e como peso é tudo o que não queremos, acabamos por nos aliviar dos compromissos severos de toda a educação. Já fomos mais românticas. Hoje o sexo é mais importante, queima calorias, melhora a pele e não duvido que um coração vazio também ajude na hora de subir na balança. Por um lado, conquistamos tanto, e, por outro, estamos nos esvaziando, querendo tudo rápido demais e abrindo mão de aproveitar o que a vida tem de melhor: o sabor, o gosto. Calma, meninas. Amor não engorda. Discrição não engorda. Reflexão não engorda. Não é preciso se agitar tanto, correr tanto, falar tanto, brigar tanto, nada disso é exercício aeróbico, é apenas tensão. Nesse ritmo, perderemos a beleza da feminilidade e acabaremos secas não só por fora, mas por dentro também. Feliz Dia da Mulher. Que nada nos sugue, tudo nos preencha.
A duração do tempo é difícil de entender. Ele é mutante em si mesmo. Pode ser extremamente longo ou extremamente curto, em função da ausência ou da presença de alguém. 
Elas entram na vida da gente e deixam sinais. Como a sonoridade do vento ao final da tarde. Como os ataques de guitarras e metais presentes em cada clarão da manhã.De tanto eu te falar você subverteu o que era um sentimento e assim fez dele razão pra se perder no abismo que é pensar e sentir...
Nosso sonho
Se perdeu no fio da vida
E eu vou embora
Sem mais feridas
Sem despedidas
Eu quero ver o mar
Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música
Nossas juras de amor
Já desbotadas
Nossos beijos de outrora
Foram guardados
Nosso mais belo plano
Desperdiçado
Nossa graça e vontade
Derretem na chuva
Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música
Um costume de nós
Fica agarrado
As lembranças, os cheiros.
Dilacerados
Nossa bela história
Está no passado
O amor que me tinhas
Era pouco e se acabou...
Até parece
Que não lembra
Que não sabe
O que passou
Não faz assim!...
Não faz de conta
Que não pensa
Em outra chance
Prá nós dois
Olha prá mim...
Não me torture
Não simule
Não me cure
De você...
Deixa o amanhã dizer!