quarta-feira, 11 de junho de 2008

Dia dos namorados

Para quem não tem namorado (trecho) - Fabrício Carpinejar

(...) O encalhado quando caça também não acha seu par. Não é por ausência de vontade, talvez seja o excesso, a ansiedade, a pressão em resolver sua vida naquele instante daquele jeito (Encalhado mesmo é aquele que consulta a data de validade da camisinha).

Sente-se duplamente negado: por si e pelos outros. Parte da concepção de que os outros estão informados de sua abstinência e jejum. E o terrível é que a maioria realmente desconfia. O encalhado respira a falta de sexo, já pede desculpas com as sobrancelhas. Subentende que é um fracassado, camuflando o estigma da mão solitária com a protuberância de anéis. Desabafa no mais sutil cumprimento. Age como eu farejando a chave ou fugindo do policiamento. Com idéias fixas. Modelando a memória para diminuir a culpa. Censurando-se por ter perdido algo (sua idade, sua fantasia, sua ingenuidade).

Não dançará à vontade ou participará de discussões, tão coagido a eleger sua cara-metade. Não irá se divertir; converteu o namoro num pré-requisito do prazer. O encalhado não conversa, investiga. Não flerta, conduz entrevistas de candidatos. Pergunta o que exigiria anos de observação. Encurralado pela falta de tempo que é ter todo o tempo do mundo.

Aos amantes solteiros, pense em mim no Dia dos Namorados antes de chorar emprestado. Ao desistirem de procurar, é certo que vão encontrar.

Dia dos namorados

Martha Medeiros - Absolvendo o amorDuas historinhas que envolvem o amor.

A primeira: uma mulher namora um príncipe encantado por três meses e então descobre que ele não é príncipe coisa nenhuma, e sim um bobalhão que não soube equalizar as diferenças e sumiu no mundo sem se despedir. Mais um, segundo ela. São todos assim, os homens. Ela resmunga: "não dá mesmo para acreditar no amor".

Peraí. Por que o amor tem que levar a culpa desses desencontros? Que a princesa não acredite mais no Pedro, no Paulo ou no Pafúncio, vá lá, mas responsabilizar o amor pelo fim de uma relação e a partir daí não querer mais se envolver com ninguém é preguiça de continuar tentando. Não foi o amor que caiu fora. Aliás, ele talvez nem tenha entrado nessa história. Quando entra, é para contribuir, para apimentar, para fazer feliz. Se o relacionamento não dá certo, ou dá certo por um determinado tempo e depois acaba, o amor merece um aperto de mãos, um muito obrigada e até a próxima. Fique com o cartão dele, você vai chamá-lo de novo, vai precisar de seus serviços, esteja certa. Dispense namorados, mas não dispense o amor, porque este estará sempre a postos. Viver sem amor por uns tempos é normal. Viver sem amor pra sempre é azar ou incompetência. Só não pode ser uma escolha, nunca. Escolher não amar é suicídio simbólico, é não ter razão pra existir. Não adianta querer compensar com amor pelos amigos, filhos e cachorros, não é com eles que você fica de mãos dadas no cinema.

Segunda história. Uma mulher ama profundamente um homem e é por ele amada da mesma forma, os dois dormem embolados e se gostam de uma maneira quase indecente, de tão certo que dá a relação. Tudo funciona como um relógio que ora atrasa, ora adianta, mas não pára, um tic-tac excitante que ela não divulga para as amigas, não espalha, adivinhe por quê: culpa. Morre de culpa desse amor que funciona, desse amor que é desacreditado em matérias de jornal e em pesquisas, desse amor que deram como morto e enterrado, mas que na casa dela vive cheio de gás e que ameaça ser eterno. Culpa, a pobre mulher sente, e mais: sente medo. Nem sabe de quê, mas sente. Medo de não merecê-lo, medo de perdê-lo, medo do dia seguinte, medo das estatísticas, medo dos exemplos das outras mulheres, daquela mulher lá do início do texto, por exemplo, que se iludiu com mais um bobalhão que desapareceu sem deixar rastro - ou bobalhona foi ela, nunca se sabe. Mas o fato é que terminou o amor da mulher lá do início do texto, enquanto que essa mulher de fim de texto, essa criatura feliz e apaixonada, é ao mesmo tempo infeliz e temerosa porque teve a sorte de ser premiada com aquilo que tanta gente busca e pouco encontra: o tal amor como se sonha.

Uma mulher infeliz por ter amor de menos, outra infeliz por ter amor demais, e o amor injustamente crucificado por ambas. Coitado do amor, é sempre acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplesmente por ter acontecido em nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí é o luxo supremo. Qualquer amor - até aqueles que a gente inventa - merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo, caríssimos, não é ele, somos nós.

Dia dos namorados

Roberto Shinyashiki - Amor

O amor é uma energia dirigida à vida. Quando alguém está apaixonado, sua aura ilumina-se, sua criatividade atinge o auge e, principalmente, a sensação de estar vivo toma conta do seu coração.

Os Dâmocles confundem medo de perder a pessoa amada com amor propriamente dito. O medo nasce da insegurança,da pobreza de espírito, enquanto o amor nasce da generosidade da alma,da nobreza de caráter.

Uma declaração de amor pode ser considerada expressão de afeto, mas muitas vezes, escondem uma hábil manipulação para manter o controle. É uma atividade egoísta que pode resultar em dependência e, e nos casos mais graves, anulação da personalidade do outro, filho, pai, mãe ou companheiro.

O medo de ser abandonado, de ser traído e da solidão cria um indivíduo possessivo, cujo desejo é moldar os outros à sua semelhança.

O Amor, ao contrário, desperta o desejo de crescer juntos, fornece coragem pra superar os bloqueios internos e, principalmente para mergulhar na vida.

A necessidade de segurança é a bíblia dos devotos da Dâmocles. Precisam saber que a pessoa amada está sempre perto, feliz ou não. Nas relações sexuais usam, ao mesmo tempo, diversos tipos de contraceptivos - Pílula, preservativo, tabelinha, e ainda assim se preocupam com uma possível gravidez. Como vivem sempre assustados, tendem a unir-se a alguém que lhes dê segurança.

Mas nem isso elimina sua desconfiança e seu ciúme. No entanto, são capazes de grandes gestos românticos, mas por medo de perder a pessoa amada do que pela vontade de seduzir. Somente quando os Dâmocles olham para a espada em cima de suas cabeças é que se dão conta do quanto são capazes de amar. A partir daí passam a se orientar pelo amor, e não mais pela segurança.

É quando acontece em suas vidas o maior de todos os milagres: descobrem que a verdadeira segurança esta baseada em sua capacidade de amar, e não de se proteger.



quinta-feira, 5 de junho de 2008

Na Sua Estante - Pitty

Te vejo errando e isso não é pecado,
Exceto quando faz outra pessoa sangrar
Te vejo sonhando e isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar
Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar ao menos mande notícias
Você acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu... (2x)

Você tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido
Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu... (2x)

Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar a minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam

E essa abstinência uma hora vai passar...

O desejo sustenta fantasias impossíveis...

Segundo Lacan, as fantasias precisam ser irrealistas, pois no momento em que tivermos o que procuramos, desistiremos, não vamos mais querer o ser procurado. Para poder continuar existindo o desejo deve ter seu objeto eternamente ausente. Não é aquilo que queremos, mas sim a fantasia daquilo que queremos. Portanto, o desejo sustenta fantasias impossíveis.
Pascal disse que somos verdadeiramente felizes somente quando sonhamos acordados com a felicidade futura. Assim, cuidado com se deseja, pois não vamos querer quando conseguirmos. Para Lacan, viver pelos desejos nunca vai trazer a felicidade. O significado de ser totalmente humano é se esforçar para viver por idéias e ideais e não viver a vida em função daquilo que ganhamos, mas pelos pequenos momentos que vivemos durante a busca daquilo que queremos.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Adaptação de pensamentos de Goethe e Paul Valéry

Do que adianta você ter essa alma colada aos ossos, dessa carne errada.
Sem o risco a vida não vale à pena.
Se você não quiser arriscar, não comece.
Isso quer dizer: e se você arriscar e perder namorada, esposa, filhos, emprego, a cabeça e até a alma?
Mas é sempre melhor isso, do que olhar para todas essas outras pessoas que nunca acertam, porque nunca se propõem ao risco.

Ei-los em pé

Jean-Paul Sartre

O que vocês esperavam que acontecesse quando tiraram a mordaça que tapava essas bocas negras?
Esperavam que elas lhes lançassem louvores? E essas cabeças que seus avós e seus pais haviam dobrado à força até o chão?
O que esperavam? Que se reerguessem com adoração nos olhos?
Ei-los em pé. Homens que nos olham. Ei-los em pé. Faço votos para que vocês sintam como eu a comoção de ser visto.
Hoje, esses homens pretos nos miram e nosso olhar re-entra em nossos olhos. Tochas negras iluminam o mundo e nossas cabeças brancas não passam de pequenas luminárias balançadas pelo vento.

O jogo

Sílvio Valentin Liorbano

Vamos decidir nos pênaltis
O analfabetismo
A falta de energia
A votação do senado
Os rumos da nação
E tudo que empata

Vamos decidir nos pênaltis
As armas do embate
O pleito eleitoral
As jogadas do futebol.

Vamos privatizar os sonhos
Banir de vez nossas paixões
Exorcizar os demônios
Num grito de liberdade
E não de gol.

Utopia

Eduardo GaleanoEu dou um passo, ela dá dois passos.
Eu dou dois passos, ela dá quatro passos.
Eu dou quatro passos, ela dá oito passos.
Para isso serve a utopia, para eu seguir caminhando.

Canto Nietzschiano

Gustavo de Castro

E aquele, entre os homens, que não quer voltar ao pó,
É preciso antes que comece a cantar em qualquer canto um canto de dor.

E aquele, entre os homens, que não quer gestar intrigas,
É preciso antes que aprenda a calar em todas as línguas.

E aquele, entre os homens, que não quer morrer de solidão,
É preciso antes que comece a beijar todas as bocas.

E aquele, entre os homens, que não quer morrer sem verdade,
É preciso antes que aprenda a acreditar em todas elas.

E aquele, entre os homens, que não quer morrer de tédio,
É preciso antes que aprenda a ser todos de todas as maneiras.

E aquele, entre os homens, que quer permanecer íntegro,
É preciso antes que saiba silenciar todas as falas.

E aquele, entre os homens, que quer permanecer sensível,
É preciso antes que saiba sentir tudo de todas as maneiras.

E aquele, entre os homens, que quer permanecer são,
É preciso antes que saiba ter todas as loucuras.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Eros e Psiquê

Fernando Pessoa

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

"A pior parte de existir
É se enganar, criar um intuito

Impossível de se compreender
Forçar o meu eu a viver fora do meu.

Deixar de me recriar e compreender

Tirar a minha vida."

(Bárbara - aluna do CEM 02 - Gama)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Fabrício Carpinejar


Levante a mão quem não quer um amor egoísta, avassalador, que ultrapasse os limites? Um amor que não peça licença, que não fale bom-dia? Um amor que esqueça o passado e dê de ombros ao que possa vir? Um amor todo tremor e insuficiência? Um amor que deixe idiota e torne o corpo inteligente? Quem não quer, hein? Um amor incondicional, absurdo e ilegível aos colegas? Um amor que não faça pensar em outra coisa além dele?

Não invejo esse amor. Desconfio desse amor. Amor não é privação. Confortável amar uma mulher isolada de seu contexto. Levá-la para um lugar longe do incômodo, uma praia ou uma serra, enchê-la de mimos e palavras fortes. Sussurrar presságios e fugir com o vento. Não preciso me isolar para amar, amo para me reunir.

É confortável ser amante sem a necessidade de permanecer para conversar. Sem ouvir. Sem a delicadeza da distância. Sem o respeito da saudade.

Árduo e puro é ser amante dia-a-dia, no meio das tarefas e pressa do emprego, no meio das contas e do fim do mês, e encontrar um jeito de não amaldiçoar a rotina. Ser gentil apesar das expressões cortadas e do apuro.

Um amante que fecha as portas dos armários e abre as portas de casa. Um amante que fica para fechar o vestido que abriu.

Confortável amar sem convívio com os defeitos. Sem as circunstâncias enfraquecendo a vontade. Com o tempo livre. Com o desejo livre.

Sou contra lua-de-mel. Sou favorável ao mel do pão, terno e repetitivo, que doura o miolo como um batom. Que gruda a língua no céu da boca. Os lábios abelhando asas pelo rosto.

Não concordo que no amor tudo é permitido. Amor não quebra a regra, o amor cria as regras. Não concordo com o amor que joga tudo pela janela, o amor tem paciência, sobe as escadas e bate a campainha. Se não tiver ninguém, espera. O amor é simples e óbvio, que não sobra muito para contar depois dele.

O amor não é para ser desmemoriado. Tem passado. Tem álbum de fotografias. Tem cartas antigas. Tem letra emendada. Tem a si mesmo.

Amor nunca dirá: que os outros se danem. Ele se importa com os outros dentro de seu amor. Até com os outros que não chegaram a tempo de vê-lo amando. Vai se importar com a opinião dos pais, dos avós e, inclusive, dos mortos.

Amor não demite, não despeja, não exclui. Amor é incluir a vida da mulher no amor. Seus filhos. Sua falta de filhos. Seu trabalho. Seus livros. Seus hábitos. Seus animais. Seus desaforos. Seus desafetos. Suas dificuldades de adaptação. Seus problemas. Suas reclamações. É amar o que não se amava, aprender a amar as verduras no prato.

Não confie nisso que chamam de paixão. Não é amor. É uma maneira certa de nunca chegar a ele.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Os Três Mal-Amados

João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto, mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Semelhante

Silvana Guimarães


Não se melindre não.
Esse jeito novo meu,
foi moda que eu inventei.
Pra esconder essa dor nova, novíssima,
que inaugurei ontem, lá pelas seis da tarde,
quando todos os anjos rezavam a ave-maria,
o sol ainda esparramava luz no mundo,
a brisa fazia cócegas nas minhas partes todas
e o vento bateu - pra sempre - aquela porta.

Não se engane comigo.
Afora essa mania boba de estar sempre comovida,
(e ficar espiando a ternura onde ninguém vai olhar)
tenho a mesma sarça ardente aqui dentro
- ardente e obscena.

Vê: sou a mesma flor.
Que não se cheira.

Madrugada

(...)Tudo dorme. Eu, no entanto, olho o espaço sombrio,
Pensando em ti, ó doce imagem adorada!...(...)



Roland Barthes

Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade. Sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.

Fernando Pessoa

A beleza de um corpo nu só o sentem as raças vestidas.

Silvana Guimarães

Relevo


Atrás do morro,

morro.

E é de amor.

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Sua

luz

minha

luz

sina