Gestação (Francis de Oliveira)Gestamos as palavras crescemos
nos gestos podados na relva umedecida
de nossa pele açoitada.
Silenciamos nossos sentimentos
sob o chicote das palavras
marcando nossos ombros estreitos.
Crescemos assim, infestados
de traças, trapaças, mazelas.
Gestamos dentro de nós
a força única da palavra
que embora não dita
há de vigorar.
Erraré útil Sofreré chato Choraré triste
Sorrir é rápido Não veré fácil Trairé tátil Olharé móvel Falaré mágico Calar é tático Desfazeré árduo Esperaré sábio Refazeré ótimo Amaré profundo E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo
Abraçaré quente
Beijaré chama
Pensar é ser humano Fantasiartambém
Nasceré dar partida
Viveré ser alguém Saudadeé despedida
Morrer um dia vem Masamaré profundo E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Porque eu sei que é amor Eu não peço nada em troca Porque eu sei que é amor Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui O amor está aqui Agora Mesmo que você tenha que partir O amor não há de ir Embora
Eu sei que é pra sempre Enquanto durar E eu peço somente O que eu puder dar
Porque eu sei que é amor Sei que cada palavra importa Porque eu sei que é amor Sei que só há uma resposta
Mesmo sem porquê eu te trago aqui O amor está aqui Comigo Mesmo sem porquê eu te levo assim O amor está em mim Mais vivo
Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia.E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for.O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento. A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial. A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar naimpossibilidade,por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar. Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas. Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver). Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar. Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude etc é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido.Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade.
A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença.Não importandonada.
A vida não é uma fotografia, em que preparamos as coisas para que fiquem bem e em seguida fixamos uma imagem para a posterioridade; é um processo sujo, desordenado, rápido, cheio de imprevistos. A única coisa certa é que tudo muda.
A vida é possível apenas através de desafios. A vida é possível apenas quando você tem ambos, bom tempo e mau tempo, quando você tem ambos, prazer e dor, quando você tem ambos, inverno e verão, dia e noite. Quando você tem ambos, tristeza e alegria, desconforto e conforto. A vida se move entre essas duas polaridades. Movendo-se entre essas duas polaridades, você aprende como ter equilíbrio. Entre essas duas coisas, você pode aprender como voar até à estrela mais distante.
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver...
Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra... Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito. Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país. Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu. Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador. Dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um (e às vezes ele pode ter até 4 patas), amém.
Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz, ou pegar-me em armas contra o mar de angústias - e, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir; Só isso.E com sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.Morrer - dormir - dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa.Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?Quem agüentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma coisa após a morte - o país não descoberto, de cujos confins não voltou jamais nenhum viajante - nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos?E assim a reflexão faz todos nós covardes.E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.