sexta-feira, 28 de agosto de 2009

1,2,3...40 semanas!

Gestação (Francis de Oliveira)Gestamos as palavras crescemos
nos gestos podados na relva umedecida
de nossa pele açoitada.
Silenciamos nossos sentimentos
sob o chicote das palavras
marcando nossos ombros estreitos.
Crescemos assim, infestados
de traças, trapaças, mazelas.
Gestamos dentro de nós
a força única da palavra
que embora não dita
há de vigorar.


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Zélia Duncan

Todos os verbos

Errar é útil
Sofrer é chato
Chorar é triste
Sorrir é rápido
Não ver é fácil
Trair é tátil
Olhar é móvel
Falar é mágico
Calar é tático
Desfazer é árduo
Esperar é sábio
Refazer é ótimo
Amar é profundo
E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo
Abraçar é quente
Beijar é chama
Pensar é ser humano
Fantasiar também
Nascer é dar partida
Viver é ser alguém
Saudade é despedida
Morrer um dia vem
Mas amar é profundo
E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009



Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova

Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora

Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
E eu peço somente
O que eu puder dar

Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta

Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo

Porque eu sei que é amor

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A felicidade possível

Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for. O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento. A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial. A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar. Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas. Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver). Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar. Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude etc é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido. Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade.



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Lya Luft

A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada.

Isabel Allende

A vida não é uma fotografia, em que preparamos as coisas para que fiquem bem e em seguida fixamos uma imagem para a posterioridade; é um processo sujo, desordenado, rápido, cheio de imprevistos. A única coisa certa é que tudo muda.

Jana Farias

Lascívia TrissilábicaSegunda... Sábado, domingo,
Semana inteira...
Vestido rasgado
contigo desnuda,
abraço devagar.
Retiro banhado...
Cobiça natural,
expirar emoções...
Aquele instante,
cenário perplexo, escuro...
Música..
ENTREGA!
Perceber palavras,
revelar segredos...
Falando baixinho...
Soluços... Sorrisos... Promessas.
Esquecer? Resistir? Disfarçar?
DIFÍCIL!
Sujeito prodígio, galante...
Mergulhar, deslizar, pertencer...
Intenção: permitir prazeres...
Única direção...
Afagos, carícias,
ternura - embalam, ouriçam, enroscam.
Arrastar abalos...
Tocada... Sentido
GOSTOSO! Aquece!
Amada!
Tornamos animais...
Ajuste perfeito! Sublime!
Contemplar delírios...
Centelha!
EXPLOSÃO!
Êxtase imortal!
Caminho... Estrada... Destino...


*(Desenho colorido de Jana Farias feito por Humberto)



João Guimarães Rosa

Miguelim estava chorando simples, não era medo de remédio, não era nada, era só a diferença toda das coisas da vida.

(Manuelzão e Miguelim )



Mia Couto

Não se preocupe, doutor. O meu chorar é feito à medida do lenço.



quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Osho

A vida é possível apenas através de desafios. A vida é possível apenas quando você tem ambos, bom tempo e mau tempo, quando você tem ambos, prazer e dor, quando você tem ambos, inverno e verão, dia e noite. Quando você tem ambos, tristeza e alegria, desconforto e conforto. A vida se move entre essas duas polaridades. Movendo-se entre essas duas polaridades, você aprende como ter equilíbrio. Entre essas duas coisas, você pode aprender como voar até à estrela mais distante.



terça-feira, 21 de julho de 2009

Heitor Villa Lobos

Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor...

Amir Klink

Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver...



segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dia do Amigo

Para que serve um amigo? (Martha Medeiros)
Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra...
Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um (e às vezes ele pode ter até 4 patas), amém.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Hamlet, Ato III, cena 1

Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz, ou pegar-me em armas contra o mar de angústias - e, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir; Só isso.E com sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.Morrer - dormir - dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa.Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?Quem agüentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma coisa após a morte - o país não descoberto, de cujos confins não voltou jamais nenhum viajante - nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos?E assim a reflexão faz todos nós covardes.E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Jussára C. Godinho

Cumplicidade:
Pactuar o desejo,
combinar a necessidade,
aproveitar o ensejo,
ajustar a ansiedade.

Aliar a emoção,
harmonizar o humor,
ligar o coração,
sonhar o amor!

Cumplicidade:

Compartir sentimentos!



Fabrício Carpinejar

Em defesa da normalidade

(...)
Proponho a defesa da normalidade. Um elogio à pacatez. Chega de pensar que a intensidade está em superar os limites. A intensidade é aproveitar os limites. É viver todas as possibilidades de um mesmo ritual. Repetir, repetir, para aperfeiçoar as variações. Contar uma mesma história para reparar e se deliciar com as pequenas mudanças.

Quero mais é ser normal. Brincar no parque, rolar na grama, andar de mãos dadas, dançar até perder o domínio dos pés, tomar sorvete em noites tórridas, cuidar dos filhos, namorar na frente da televisão, buscar um cobertor para aquecer a mulher quando ela dorme na sala, assobiar para espantar o tédio, comentar a violência e a política na parada de ônibus, bagunçar as gavetas no trabalho, usar tênis folgado para as caminhadas. Quero mais as alegrias perecíveis. Um café da manhã com direito a farelos na toalha e goiabada no chão. Quero mais naufragar na rotina. Fazer tudo exatamente igual porque gosto, porque escolhi essa vida e não foi imposta, porque quando amo nada se esgota, nada tem fundo.

Muitos proclamam a loucura porque não estão nela. Cômodo assistir as brasas do inferno de longe. É também uma forma de se eximir da responsabilidade. Fácil declarar que se é louco para não arcar com as conseqüências, tanto aqui como no tribunal.

Ser louco não é coisa boa. Não traz consolo, prazer ou conhecimento. Ser louco é uma profissão estressante, sem amigos. O louco desconfia de sua própria imaginação. Ele pena para manter sua saúde.