
Namoro que é namoro está representado por algo muito mais simples, sutil, barato e íntimo: os dedos entrelaçados no escuro do cinema. De mãos dadas se constrói uma relação.
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Este gesto mundano e trivial pode às vezes ser mais importante que um beijo — que um beijo! Pergunte a uma viúva do que ela mais sente falta do falecido, e é bem possível de ela lembrar só dos incômodos que o infeliz causava, mas as mãos agarradas dentro do cinema hão de despertar sua saudade.
Pergunte a mesma coisa a alguém que está passando por uma dor-de-cotovelo daquelas. Mesmo sofrendo, é provável que não se comova com a lembrança das brigas e nem dos “eu te amo”, mas ter de assistir a uma comédia romântica de braços cruzados há de ferí-la de morte. E os casados há 20 anos, há 30, há 50 anos? Podem hoje ter o costume de rugir um para o outro na sala de jantar, mas dentro do cinema ainda se tratam como se tivessem se conhecido ontem e não perdem o hábito instaurado no primeiro filme de suas vidas. Se não o fazem, é porque o casamento já acabou e não foram avisados. O último resquício de amor ainda se confirma com as mãos dadas dentro do cinema. Há salvação para os que as mantêm unidas ao menos ali.
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