domingo, 4 de maio de 2008

Elisa Lucinda, da série “Eternidades Cotidianas”

“Euteamo” e suas estréias


Te amo mais uma vez esta noite

talvez nunca tenha cometido “euteamo”

assim tantas seguidas vezes, mal cabendo no fato

e no parco dos dias.

Não importa, importa é a alegria límpida

de poder deslocar o “Eu te amo”

de um único definitivo dia

que parece bastá-lo como juramento

e cuja repetição, parece maculá-lo ou duvidá-lo...


Qual nada!

Pois que o euteamo é da dinâmica dos dias

É do melhoramento do amor

É do avanço dele

É verbo de consistência

É conjugação de alquimia

É do departamento das coisas eternas

que se repetem variadas e iguais todos os dias

na fartura das rotações e seus relógios de colmeias

no ciclo das noites e na eternidade das estréias:


O sol se aurora e se põe com exuberância comum e com

novidade diária

e aí dizemos em espanto bom: Que dia lindo!

E é! Porque só aquele dia lindo

é lindo como aquele.

Nossa sede, por mais primitiva,

é sempre uma

loucura da falta inédita

até o paraíso da água nova

no deserto da nova goela.


Ela, a água,

a transparente obviedade que

habita nosso corpo

e nos exige reposição cujo modo é o

prazer.

Vê: tudo em nós comemora

o novo milenar de si

todas as horas:

Comer é novidade

Dormir é novidade

Doer é novidade

Sorrir é novidade


Maravilhosa repetitiva verdade que se

expõe em cachos a nosso dispor

variando em sabor e temor e glória

Por isso te amo agora como nunca antes

Porque quando te amei ontem

eu te amava naquele tempo

e sou hoje o gerúndio daquela disposição de verbo

Te amo hoje com você dentro

embora sem você perto

Te amo em viagem

portanto em viragem diferente da que quando

estava perto

Meu certo é alto, forte


Te amo como nunca amei

você longe, meu continente, meu rei

Eu te amo quantas vezes for sentido

e só nesse motivo é que te amarei.