Levante a mão quem não quer um amor egoísta, avassalador, que ultrapasse os limites? Um amor que não peça licença, que não fale bom-dia? Um amor que esqueça o passado e dê de ombros ao que possa vir? Um amor todo tremor e insuficiência? Um amor que deixe idiota e torne o corpo inteligente? Quem não quer, hein? Um amor incondicional, absurdo e ilegível aos colegas? Um amor que não faça pensar em outra coisa além dele?
Não invejo esse amor. Desconfio desse amor. Amor não é privação. Confortável amar uma mulher isolada de seu contexto. Levá-la para um lugar longe do incômodo, uma praia ou uma serra, enchê-la de mimos e palavras fortes. Sussurrar presságios e fugir com o vento. Não preciso me isolar para amar, amo para me reunir.
É confortável ser amante sem a necessidade de permanecer para conversar. Sem ouvir. Sem a delicadeza da distância. Sem o respeito da saudade.
Árduo e puro é ser amante dia-a-dia, no meio das tarefas e pressa do emprego, no meio das contas e do fim do mês, e encontrar um jeito de não amaldiçoar a rotina. Ser gentil apesar das expressões cortadas e do apuro.
Um amante que fecha as portas dos armários e abre as portas de casa. Um amante que fica para fechar o vestido que abriu.
Confortável amar sem convívio com os defeitos. Sem as circunstâncias enfraquecendo a vontade. Com o tempo livre. Com o desejo livre.
Sou contra lua-de-mel. Sou favorável ao mel do pão, terno e repetitivo, que doura o miolo como um batom. Que gruda a língua no céu da boca. Os lábios abelhando asas pelo rosto.
Não concordo que no amor tudo é permitido. Amor não quebra a regra, o amor cria as regras. Não concordo com o amor que joga tudo pela janela, o amor tem paciência, sobe as escadas e bate a campainha. Se não tiver ninguém, espera. O amor é simples e óbvio, que não sobra muito para contar depois dele.
O amor não é para ser desmemoriado. Tem passado. Tem álbum de fotografias. Tem cartas antigas. Tem letra emendada. Tem a si mesmo.
Amor nunca dirá: que os outros se danem. Ele se importa com os outros dentro de seu amor. Até com os outros que não chegaram a tempo de vê-lo amando. Vai se importar com a opinião dos pais, dos avós e, inclusive, dos mortos.
Amor não demite, não despeja, não exclui. Amor é incluir a vida da mulher no amor. Seus filhos. Sua falta de filhos. Seu trabalho. Seus livros. Seus hábitos. Seus animais. Seus desaforos. Seus desafetos. Suas dificuldades de adaptação. Seus problemas. Suas reclamações. É amar o que não se amava, aprender a amar as verduras no prato.
Não confie nisso que chamam de paixão. Não é amor. É uma maneira certa de nunca chegar a ele.
Não invejo esse amor. Desconfio desse amor. Amor não é privação. Confortável amar uma mulher isolada de seu contexto. Levá-la para um lugar longe do incômodo, uma praia ou uma serra, enchê-la de mimos e palavras fortes. Sussurrar presságios e fugir com o vento. Não preciso me isolar para amar, amo para me reunir.
É confortável ser amante sem a necessidade de permanecer para conversar. Sem ouvir. Sem a delicadeza da distância. Sem o respeito da saudade.
Árduo e puro é ser amante dia-a-dia, no meio das tarefas e pressa do emprego, no meio das contas e do fim do mês, e encontrar um jeito de não amaldiçoar a rotina. Ser gentil apesar das expressões cortadas e do apuro.
Um amante que fecha as portas dos armários e abre as portas de casa. Um amante que fica para fechar o vestido que abriu.
Confortável amar sem convívio com os defeitos. Sem as circunstâncias enfraquecendo a vontade. Com o tempo livre. Com o desejo livre.
Sou contra lua-de-mel. Sou favorável ao mel do pão, terno e repetitivo, que doura o miolo como um batom. Que gruda a língua no céu da boca. Os lábios abelhando asas pelo rosto.
Não concordo que no amor tudo é permitido. Amor não quebra a regra, o amor cria as regras. Não concordo com o amor que joga tudo pela janela, o amor tem paciência, sobe as escadas e bate a campainha. Se não tiver ninguém, espera. O amor é simples e óbvio, que não sobra muito para contar depois dele.
O amor não é para ser desmemoriado. Tem passado. Tem álbum de fotografias. Tem cartas antigas. Tem letra emendada. Tem a si mesmo.
Amor nunca dirá: que os outros se danem. Ele se importa com os outros dentro de seu amor. Até com os outros que não chegaram a tempo de vê-lo amando. Vai se importar com a opinião dos pais, dos avós e, inclusive, dos mortos.
Amor não demite, não despeja, não exclui. Amor é incluir a vida da mulher no amor. Seus filhos. Sua falta de filhos. Seu trabalho. Seus livros. Seus hábitos. Seus animais. Seus desaforos. Seus desafetos. Suas dificuldades de adaptação. Seus problemas. Suas reclamações. É amar o que não se amava, aprender a amar as verduras no prato.
Não confie nisso que chamam de paixão. Não é amor. É uma maneira certa de nunca chegar a ele.