quarta-feira, 3 de agosto de 2011

André Comte-Sponville


Um amigo meu, quarentão, novamente presa de uma paixão recente, me dizia, falando da sua nova conquista: “Eu a amo por seu mistério.” Respondi: “Você está me explicando que você a ama porque você não a conhece. Dê-se o tempo de conhecê-la…” Viver a dois é isso: dar-se o tempo de conhecer o outro, num grau de intimidade que nenhuma outra experiência permite. E, quando isso traz prazer e alegria, o que há de mais forte, de mais precioso, de mais insubstituível? Aquela que só ama as ilusões que tem sobre mim leva-me ao fingimento e à angústia: o que restará do seu amor quando ela aprender a me conhecer? Já aquela que me ama tal como sou, tal como me conhece de perto e de verdade, me dá o mais perturbador dos presentes: ser amado inteiramente e por ser eu mesmo.

Lya Luft


Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. (...) Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador.

Fernando Freire

Deitada nesta cama
feito deusa e pagã
és parte desta chama
em que nasce a manhã
quando a vida artesã
do desejo se inflama
em tua pele que clama
por um novo sentir
por um novo sentido
para o verbo existir.

Eduardo Galeano in O livro dos abraços


Dos medos nascem as coragens; e das dúvidas, as certezas. Os sonhos anunciam outra realidade possível, e os delírios, outra razão. Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos. A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia. Nessa fé, fugitiva, eu creio.