segunda-feira, 25 de julho de 2011

Rubem Alves


Há pessoas que nos fazem voar. A gente se encontra com elas e leva um bruta susto. Primeiro, porque o vento começa a soprar dentro da gente, e lá, de cantos escondidos de nossas montanhas e florestas internas, aves selvagens começam a bater asas, e a gente não sabia que tais entidades mágicas moravam dentro de nós, e elas nos surpreendem, e nós nos descobrimos mais selvagens, mais bonitos, mais leves, com uma vontade incrível de subir até as alturas, saltando, saltando de penhascos, pendurados numa asa-delta (acho que o nome disso é fé…)

Adriel Gennaro


Foi muito de repente, mais do que poetizou Vinícius. Na estrada quase morta de todo dia tive saudade dos sonhos. Dos sonhos óbvios. Dos sonhos possíveis. Lembrei que julguei ter laços resistentes aos lenços.  Lembrei que já tive força para mudar o mundo. E não mudei. Lembrei de tantas vezes que falei quando deveria calar.  E de outras que julgando ser prudente emudeci com a presunção de um sábio. Lembrei de todas as desculpas que inventei pra não ligar, pra não escrever. E de tantas outras que criei pra não dizer que amava, que amei. Lembrei de tantos perdões que neguei. Lembrei das razões que criei pra não ir e das outras que acreditei pra ficar. Lembrei do tempo em que o tempo não passava. E foi lembrando que vi chegar o fim de mais um dia com apenas um punhado de sonhos adormecidos. Tudo ficou crônico demais.

Fernanda Gaona


Eu gosto de quem facilita as coisas. De quem aponta caminhos ao invés de propor emboscadas. Eu sou feliz ao lado de pessoas que vivem sem códigos, que estão disponíveis sem exigir que você decifre nada. O que me faz feliz é leve e, mesmo que o tempo leve, continua dentro de mim. Eu quero andar de mãos dadas com quem sabe que entrelaçar os dedos é mais do que um simples ato que mantém mãos unidas. É uma forma de trocar energia, de dizer: você não se enganou, eu estou aqui. Porque por mais que os obstáculos nos desafiem o que realmente permanece, costuma vir de quem não tem medo de ficar.

Eduardo Galeano in O livro do abraços


Helena sonhou que deixava os sonhos esquecidos numa ilha. Claribel Alegria recolhia os sonhos, os amarrava com uma fita e os guardava bem guardados. Mas as crianças da casa descobriam o esconderijo e queriam vestir os sonhos de Helena, e Claribel, zangada, dizia a eles:
- Nisso ninguém mexe.
Então Claribel telefonava para Helena e perguntava:
- O que eu faço com os seus sonhos?

Briza Mulatinho


Ela perguntou como é que eu tive certeza de que aquela escolha era a mais acertada. Respondi que nunca tive, que não tenho até agora. Porque tem coisas que a gente, simplesmente, não sabe. Decidi ali na tentativa de fazer o melhor e fui. Com fé. Sim, fé e não certeza. Vontade que desse certo. Ou, de pelo menos, que não fosse motivo para me arrepender para todo o sempre.