sexta-feira, 7 de março de 2008

08 de março - Dia Internacional da Mulher

Martha MedeirosHoje é o Dia Internacional da Mulher, que na prática não ajuda a mudar muita coisa, mas ao menos serve para reflexões, debates e crônicas temáticas. O que valeria a pena discutir hoje? Proponho um assunto sem relevância política, mas igualmente importante: o recheio. Tudo o que temos retirado de nós, tudo o que tem sido lipoaspirado de nossas vidas. Já fomos mais silenciosas. Mas, ao ganhar o direito à voz, nos tornamos mulheres aflitas, que não se permitem um momento de quietude. Falamos, falamos, falamos compulsivamente, como se fosse contra-indicado guardar-se um pouco, como se o silêncio pudesse nos inchar. Já sofremos com mais pudor. Hoje nossas deprês são extravasadas, distribuídas, ofertadas, viram capa de revista, como se a dor fosse uma inimiga a ser despejada, como se o sofrimento fosse algo venenoso e necessitasse de expulsão, como se não valesse a pena alimentar-se dele e através dele crescer. Já fomos mães mais atentas, que geravam por mais tempo, por bem mais do que nove meses. Levávamos os filhos dentro de nossas vidas por longos anos. Hoje temos mais pressa em entregá-los para o mundo, a responsabilidade pesa, e como peso é tudo o que não queremos, acabamos por nos aliviar dos compromissos severos de toda a educação. Já fomos mais românticas. Hoje o sexo é mais importante, queima calorias, melhora a pele e não duvido que um coração vazio também ajude na hora de subir na balança. Por um lado, conquistamos tanto, e, por outro, estamos nos esvaziando, querendo tudo rápido demais e abrindo mão de aproveitar o que a vida tem de melhor: o sabor, o gosto. Calma, meninas. Amor não engorda. Discrição não engorda. Reflexão não engorda. Não é preciso se agitar tanto, correr tanto, falar tanto, brigar tanto, nada disso é exercício aeróbico, é apenas tensão. Nesse ritmo, perderemos a beleza da feminilidade e acabaremos secas não só por fora, mas por dentro também. Feliz Dia da Mulher. Que nada nos sugue, tudo nos preencha.

Dia Internacional da Mulher - 08 de março

Fabrício Carpinejar
Sou desconfiado com o Dia Internacional da Mulher. Como sou cético com o Dia dos Namorados. Nessas datas, esquecemos de pensar para convencionar gestos e gastos. É um cuidado protocolar para não magoar a corrente, a enxurrada de manifestações, os compromissos festivos. Um dia de rosa deslocada dos espinhos. E qual é o espinho? Continuar comparando a mulher com o que o homem faz ou deixa de fazer. A mulher ganhou terreno no trabalho e assume cargos antes dirigidos por homens. A mulher conduz ônibus. A mulher joga futebol. A mulher apita jogos. A mulher comenta esportes. Só falta correr na Fórmula 1? Existe o hábito machista de dizer que a mulher se emancipou ou evoluiu tendo como referência a ocupação dela em atividades ditas masculinas, que na verdade nunca foram masculinas Ser dona de uma empresa e ser dona de um estádio não aumentam a cotação da mulher. Mulher não tem cotação, porém valor. Sempre foi política mesmo quando não podia se candidatar. Não depende de uma cota para ser votada. De uma chance para ser vista. De um amor para ser compreendida. De um emprego para dizer sua opinião. A mulher é incomparável desde sempre. Mania de moldar à mulher por uma realidade masculina. E o que elas fizeram antes dos homens, não conta? E o que os homens fizeram a partir dela, não conta? Não sei, não sei, é uma chatice tremenda falar de gênero quando não somos capazes de mudar a própria rotina intelectual. Mulher tem poder, que a autoridade masculina demorará a entender. Poder e autoridade são distintos. Poder é o que se conquista naturalmente, autoridade é uma adaptação social, provisória e efêmera. Meus filhos não me procuram quando estão doentes. Procuram a mãe. A confiança que emana dela vem do cuidadoso detalhe, a sinfonia corrigida à mão, o abraço que protege e conforta. A mulher oferece a intimidade da percepção, a capacidade periférica de enxergar do lado de dentro para fora. É atenciosa com o que não oferece utilidade. O homem importa-se com o domínio, não com a intimidade. Quantas vezes já vi um homem apresentar orgulhoso sua namorada como uma roupa exclusiva e cara para provocar inveja? A mulher tem a necessidade de ser feliz, o homem parece que tem a obrigação de ser feliz. Felicidade não se herda.
Arnaldo Agria Huss A duração do tempo é difícil de entender. Ele é mutante em si mesmo. Pode ser extremamente longo ou extremamente curto, em função da ausência ou da presença de alguém.

Dez frases de Fabrício Carpinejar


“Tudo foi brincadeira, tudo será sempre uma brincadeira sádica, uma brincadeira cruel, quando apenas um dos dois estiver amando.”
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"O desejo é um medo que não tem cura."
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"Não desisto de me encontrar onde não estou."
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"O poema é uma mão tremendo. Seguro no poema não para aliviar o tremor, mas para ser contagiado por ele."
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"Antes sem modos do que seguir moda."
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"Agradeço meus limites. Não me suportaria infinito. Os limites são vantagens."
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"É mais difícil arrastar uma pessoa desmaiada, morta, tudo é bem mais pesado. É necessário que tenha vida para conseguir carregar. Assim eu penso os livros."
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“Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem.”
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“A monotonia surge no momento em que o entusiasmo se transforma em obrigação.”
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“É fácil ficar em casa com chuva, difícil é ficar com o sol lá fora. Ficar em casa com sol lá fora só com muito amor dentro.”