quinta-feira, 31 de julho de 2008

Adriana Calcanhoto

Fernando Pessoa

Ana

Viviane Mosé

Ela era linda. Tinha os olhos saltados e a boca rasgada como uma fenda. Macia e profunda. Seus cabelos negros reluziam em sua pele branca. Ela era linda e mesmo pequena ocupava todos os espaços. Reinava como um rapaz afeminado. Um pássaro molhado. Um tigre. Um grande tigre ou dragão. Doce como o mel dos gozos era frágil como os poetas. E triste. Profundamente triste apesar da alegria rubra que escorria pelo eterno sorriso felino. Ela era grande. Grande como são as estrelas. E até podia ser feia e era. Mas erguia as mãos quando fumava e os dedos caídos pediam aos deuses um espaço no Olimpo. Seus gestos diziam tanto que mesmo sem o maior encanto embriagava os homens. E assustava as mulheres. Umas lhe rendiam homenagens enquanto outras faziam vodu e pregavam alfinetes em seu peito miúdo. Ela era linda e tão linda que um dia caiu de bruços e um brutamontes lhe comeu o cu.