quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Eduardo Galeano


(...) Então, passou uma estrela cadente. Eu podia ter pedido um desejo; mas não lembrei.
O menino me explicou:
- Você sabe por que as estrelas caem? A culpa é de Deus. Deus gruda elas mal. Ele gruda as estrelas com cola de arroz.

Michel Melamed


Matéria frágil é o amor, amor. Por exemplo: uma bomba nuclear e ele já era. Por isso todo casal deveria antes, durante e depois de tudo ser amigo. Só a amizade e  as baratas sobreviverão ao fim do mundo do amor.
Outra: encantamento é a coisa mais importante do mundo (petróleo nada, os carros são movidos a encantamento). É claro que acho a criatividade a coisa mais importante do mundo, mas vida deveria ser um pedaço de criatividade cercado de encantamento por todos os lados. Quero dizer, criatividade é a chama, conquanto encantamento é o fósforo, a caixinha, o sambista… e o paiol.
Michelangelo sabia das coisas, vide “A Criação do Homem”. Assim, todo teto é potencialmente uma Capela Sistina. Em suma, encantamento é algo frágil. Encantamento é um bichinho de pelúcia que fala, anda e sente e pensa. É uma pessoa de pelúcia. É a pessoa mais linda do mundo de pelúcia. A pessoa mais linda do mundo nua e de polainas de pelúcia. E te amando. Encantamento é tesão lírico – ou tesão e lirisimo. Mas é frágil como qualquer coisa que morre. Cuide do seu encantamento sob risco de virar cimento – ou rima vã. Aliteração – ou renavam. Enfim, figura de linguagem, retórica, balela, baleia… Pois a sombra do encantamento é pesada e esperneia. Esmaga sem maldade, mas esmaga, atropela, pisa. Tem gente que a gente vê no olhar a sombra do encantamento repisada.
Lembrei dos Paralamas: “Cuide bem do seu amor”. Ao contrário dos filmes e do desejo popular, se tiver de ser será, etc, o amor é o eterno pique até a porta do elevador fechando. Quer dizer, torça para que tenha alguém dentro, que te ouça gritar “segura, por favor!”, e, fundamentalmente, corra na direção dele (a).
Porque amor é vida, na plenitude, assim, caminha para morte, seu mar é o fim. Delicado jogo esse, sobre o arame sobre o abismo sobre o poema sobre a página sob os olhos. Em que aquilo é tudo na vida e ainda se tem a vida inteira – não no sentido de tempo, mas espaço. Por isso o casamento é meia pedra no caminho andado para o andor de barro da dor do fim do amor.
Há que se ter destreza para equilibrar tantos contorcionistas chineses, bigornas de cristal, tratores de papel, jumbos de mel… O amor é tão sinistro que te faz viver por contraste – vide o texto.
O amor é o eixo da desmáquina. O amor é molhar a mão. O amor é qualquer coisa que qualquer um escreva, enfim. E esse é o perigo. E ainda bem. E ainda mal. E aí dá. Mas quem sou eu pra falar de Roma?

Mia Couto

No resto, Mundinha partilha a condição das demais mulheres da Vila: envergonhada de ter nascido, temente de viver e triste por não saber morrer.
- Posso perguntar uma coisa? Por que razão vocês passaram a dormir separados?
- A vida é um rio, Doutor; a água junta e separa.
- Você é feliz, Dona Munda?
- Não é que seja infeliz. Eu não sou é feliz.
(...)
- Uma coisa aprendi na vida. Quem tem medo da infelicidade nunca chega a ser feliz.