terça-feira, 13 de setembro de 2011

Patrícia Antoniete


(...) Não tenho freios, tenho partidas. Não tenho sossego, tenho ardor. Não viverei entre areia, entre pedras, entre abismos de promessas que se foram. Meus trilhos se trifurcam, quadrifurcam... e eu sigo por todos eles. Não viverei entre miséria, água pouca, migalhas de desejo. Minha mesa é farta e eu mesma me darei de comer.

Ana Jácomo


A generosidade com relação às dificuldades alheias começa também no contato mais vívido com a certeza da existência das nossas. Quem tem consciência das próprias limitações sabe o quanto às vezes é dificílimo dar um passo, o primeiro deles, fora do território de alguns sentimentos. Por mais que a alma nos peça incansavelmente. Por mais que, de vez em quando, ela pareça inventar pretextos só para nos impulsionar. Por mais que saiba, por histórico, que o primeiro passo ainda não é garantia de caminhada, mas já é avanço e esperança.
Quem vê a flor geralmente não imagina a paciência tecelã que é necessária para que a ideia da semente seja dita.
(...)
O que prevalece agora é essa maneira nova de sentir a vida. Essa perspectiva que me faz admirar, incansáveis vezes, antigas preciosidades. Essa vontade de bendizer tantas maravilhas. Esse sentimento de gratidão pelas coisas mais simples que existem. Esse canal que escolho assistir com mais frequência. Esse jeito mais amigo de ouvir meu coração.
O que prevalece agora é essa apreciação mais desperta, que me permite reinaugurar flores e céus e pessoas no meu olhar. Essa graça que encontro, de graça, nos detalhes mais singelos. Essa vontade de contribuir. Esse desejo de brincar de roda.
O que prevalece, agora, é a confortável suposição de que, por trás de tantas e habituais nuvens, esse contentamento faz parte da nossa natureza perene.
Os problemas, os desafios, as limitações, não deixaram de existir. Deixaram apenas de ocupar o espaço todo.