domingo, 4 de dezembro de 2011

Be Lins

O Amor me parece ser uma conjunção de boa sorte. Uma conjunção de tempo e espaço. De sincronicidade. Uma conjunção de boas intenções e disponibilidade. Um encontro de coincidências que aceleram partículas misteriosas que fazem o mágico do amor acontecer. Não passa pela lógica, não passa pela razão, não passa pelo conhecimento. Passa por uma ponte que só desce vez enquando. Ou quase nunca. Depende. Depende da sorte. E do encontro que haverá com outro alguém de sorte. E de coragem. E de coração grande. E de sorriso largo. E de gestos calorosos. E de palavras fluídas. E de segurança. Interior e contagiante. Amor parece querer fazer barulho. Amor que é amor é tagarela. É vontade incontrolável de tudo dizer, de tudo declarar, de querer estar junto. Amor é encarar a barra. Que houver. Qualquer uma. Conjunção de coragens. Conjunção de bem querer. Conjunção de decisões. CONJUNÇÃO DE GESTOS DE AMOR. Amor não tem nada de econômico, muito antes disso, é gastador desmedido. E não precisa de garantias, muito menos de fiadores e avalistas. Ou detetives e conselheiros. Amor não parece precisar de tempo para descobrir se é amor. Nem de questionários, indagações, muitas conversas, investigações minuciosas a caminho de pistas para obter certeza ou comprovação. Amor é intuição misturada à uma grande quantidade de fé. Amor é desejo de amar. Assim, desse jeito mesmo: você decide que quer amar, e se abre à caminho. E se joga. Ou se atira, se arremessa, se entrega. E deseja de todo coração que aconteça. E às vezes, ele acontece bonitinho. A tal conjunção de dois corações, e assim se faz um mundo. E o mundo. Assim caminha a humanidade. Quando é unilateral, amor sozinho, amor de um, amor sem par, aí, sei lá, que me perdoem os céus se me equivoco, mas aí não me parece amor, não!, parece-me mais como um castigo por mal comportamento. A sorte é que passa, só que a gente é teimoso e então... começa tudo outra vez, se a gente decidir que as conjunções valem a pena.

Carla Madeira


A trajetória humana é o resultado da tensão entre preservar e transgredir. O corpo quer preservar. A alma, transgredir. Funciona mais ou menos assim: o sujeito está parado em frente ao mar, em um lugar paradisíaco, dia azul, brilhante e agradável. Uma brisa suave deixa a vida perfeita. É quando a alma começa a se perguntar: “O que será que tem do lado de lá?” O corpo completamente feliz com o paraíso responde: “Não faço a menor ideia.” Então, a alma continua: “Acho que vamos ter de ir até lá.” “Como assim”, protesta o corpo!  “Ir lá a troco de quê? Correr o risco de afogar, de ser comido por um tubarão!” “É, mas, se o único jeito de saber o que tem do lado de lá é indo lá, vamos ter que ir. Ou você prefere que eu vá sozinha?” O corpo, sabendo que não pode ficar vazio de alma, se conforma. E a alma, cheia de coragem e dúvida, se lança ao mar.
O que nos move são as perguntas, que organizam nossas dúvidas. Que não se calam e nos fazem seguir em frente. Os maiores empobrecimentos do mundo e as maiores violências nascem das certezas. Os fundamentalistas são aquelas pessoas com certezas tão absolutas que matam e morrem por elas. E fazem isso não pelo que acreditam, mas porque estão tão radicalmente sem dúvidas que não admitem que o outro pense ou seja diferente.
A obsessão pela certeza é uma tentativa de eliminar o risco. O medo do risco imobiliza. O sujeito passa as quatro estações dentro de casa. Não pode sair no verão porque o sol forte pode provocar câncer de pele. É verdade, pode. Não pode sair no inverno porque pode pegar uma pneumonia. É…pode. Não pode sair na primavera: vai que as abelhas, assanhadas com o pólen, resolvem atacá-lo. Isso pode até matar. Não pode sair no outono já que as folhas caem, e um galho pode cair junto, bem na cabeça do cara. Quem pode garantir que não? É isto que o medo faz: ele transforma a possibilidade, muitas vezes remota, em certeza. O medo é a certeza de que o pior vai acontecer.

Clarice Lispector

Fujamos para Hong Kong ou para qualquer lugar
com pouco aquém do além.
E, como você diz:
_ Que Deus nos proteja para todo sempre.


José Luís Peixoto

Os meus olhos eram verdadeiros. A esperança dentro de mim era verdadeira: a fé absoluta. Acreditava, sem conseguir imaginar o contrário. Era uma certeza que construíra nos meus olhos. Era o desejo sincero de uma certeza. Um desejo de ser, ele próprio, o reflexo perfeito de uma certeza.