domingo, 3 de abril de 2011

Inês Pedrosa in Os íntimos


(…) alguém que não nos sirva, que não nos utilize, que nos ensine a sair do nosso invólucro produtivo e a entender a gratuita e caótica beleza do mundo. Percorrer com a língua o sexo de uma mulher. Senti-lo estremecer ao toque dos dentes. Transformar dentes e língua em instrumentos de silêncio e mansidão, oferecê-los à boca do corpo de uma mulher, deixarmo-nos guiar pela luz do seu desejo e gozar com o gozo dela. A experiência sublime de causar uma felicidade instantânea a outro ser. Ou oferecermos o mais precioso e estúpido pedaço do nosso corpo à língua de uma mulher, conduzi-la até ao cume da montanha do nosso prazer, derramarmo-nos na sua boca: tomai-me e bebei-me. Esta forma de intimidade tornou-se escandalosa e risível — não serve para fabricar crianças, não é um exercício de poder, não é sequer um exercício. 

Dulce Magalhães

“Entre o sono e o sonho, entre mim e o que em mim é o quem eu me suponho, corre um rio sem fim”. Fernando Pessoa, inspirado poeta, leitor sensível da alma humana, pode traduzir com sutileza o desafio de cada existência. Onde se dará nosso despertar de compreensão?
Vamos de crises em crises aprendendo aos tropeços, sofrendo de ansiedade, estresse e cansaço. É preciso compreender que não é a crise que nos encontra, somos nós que a produzimos. Isso se dá porque não fluímos bem nos movimentos da mudança, nesse rio sem fim a que costumamos chamar vida.
A mudança é o ritmo no qual o mundo caminha e só há um jeito de se dar bem com ela, aprendendo a mudar também. O maior paradoxo, a contradição mais coerente da mudança, é que é preciso mudar para ser quem se é. É preciso deixar de ser quem não somos, de fazer o que não queremos e viver o que não gostamos. Se olharmos atentamente nossa realidade, vamos perceber que muitas coisas em nosso dia a dia se encaixam nessa definição que é contrária à nossa natureza.
É urgente nos armarmos de coragem e irmos à busca de nós mesmos. É prioritário definir o que vamos fazer com o tempo que nos foi dado. É fundamental acordarmos do sono ilusório da realidade para vivermos na prática o sonho que nos comove. A crise é apenas um sinal na estrada dizendo que é hora de rever o caminho. Vá em busca de si mesmo e não tenha medo dos desafios e das incertezas, pois as asas só aparecem quando o chão desaparece.

José Saramago


Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida.