terça-feira, 31 de maio de 2011

Fernando Pessoa


Tão abstrata é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

Lucas Lujan


Fé cristã é assumir, até as últimas consequências, o amor como fundamento para a vida humana, nem que custe uma cruz.

Mortimer Adler


(...) o ser humano se distingue dos outros animais por sua capacidade de fazer perguntas com o objetivo de adquirir conhecimento sobre si mesmo e sobre o mundo em que vive. Reconhecendo este fato, Aristóteles dá início a um de seus mais importantes livros com a seguinte sentença: "Todos os homens, por natureza, tendem ao saber". Em outras palavras, ele diz que o desejo de conhecer é uma necessidade tão natural quanto o desejo de comer. Entretanto, há uma diferença curiosa entre a necessidade de conhecimento e a necessidade de comida. Quando desprovidos de alimento, a maioria dos seres humanos é capaz de percebê-lo, porque sentem o estômago doer. Mas, se desprovidos de conhecimento, não é sempre que os seres humanos se dão conta dessa privação. Desafortunadamente, é raro sentirmos a dor da ignorância como sentimos a dor da fome.

Miguel Torga

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.