quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Hilda Hilst

Vos sinto por toda parte.
Se me falta o que não vejo
Me sobra tanto desejo
Que este, o dos olhos, não importa.

(Antes importa saber
Se o que mais vale é sentir
E sentindo não vos ver.)

São coisas do amor,
Desordenadas, antigas.
E se são coisas que se invejam
P'ra se cantar a cantiga.

Não são os olhos que vêem
Nem o sentido que sente.
O amor é que vai além
E em tudo vos faz presente.




Herbert Vianna

Sigo palavras e busco estrelas...



José Antonio Gonçalves


Promete-me que não dormes
se eu te entregar o meu corpo
e me usares como cama.


Fernanda Young

Não se soma à alma aquilo que não é capaz de entrar dentro dela. E alma só se preenche com silêncio, algum poema, um conselho que, de bom, foi esquecido, beijo de mãe quando se dorme, uma reza sincera ao anjo da guarda, um amor que é eterno e raro de se achar.



Itamar Assumpção

Pensei seduzir você daquele instante em diante
Além
de fazer crochê, pensei dar vôo rasante
Ir ao cinema, escrever, reinar nesse caos reinante
Impressionante, por que que eu não pensei nisso antes.

(Por quoi je n´ai pense pas a çà avant?)

(Sim, eu gosto...)



Mário Quintana

A laranja cortada ao meio,

úmida de amor, anseia pela outra...

É assim, é bem assim que eu te desejo!



Mia Couto

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo, outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No úmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome