quarta-feira, 30 de junho de 2010

Martha Medeiros



Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.
O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.
E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.
Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.
Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência, mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.

Mona Saunders




- Oi.
- Oi. Como você está?
- Tô bem. E você?
- Também estou bem.
E esquecem que bem, não é feliz.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Por que amamos quem amamos?

Rosana Braga


Se existem verdades absolutas, uma delas é que todos nós temos medo de sofrer.

Assim, ingenuamente tentamos controlar as situações ao nosso redor, como se isso fosse possível...

Obcecados por esse desejo de nos proteger, gastamos nossa energia e nosso tempo tentando controlar os pensamentos, as atitudes e até os sentimentos das pessoas que amamos e que, sobretudo, desejamos que nos amem. No entanto, não nos damos conta de que a vida se baseia no imprevisível, no incontrolável, no surpreendente!

Nenhum sentimento é garantido, nenhuma conseqüência é revelada antecipadamente. O futuro é totalmente incerto. E apesar de tamanha imprevisibilidade, temos em nosso coração toda a possibilidade de conquistarmos quem amamos, o que é muito diferente de controlar, prever ou obter garantias!

Muitas pessoas não conseguem viver o amor, não se entregam a uma relação profunda e verdadeira simplesmente porque estão, todo tempo, tentando obter certezas. As perguntas não param de gritar, as dúvidas não têm fim e o medo de se deparar com a dor parece assombrar seus corações, impedindo-os de enxergar a fantástica possibilidade de ser amado, tão plausível quanto a de sofrer. Será que ele me ama? Será que vale a pena perdoar e tentar de novo? Será que ele não vai me trair? Será que não estou sendo idiota? Será que não vou sofrer mais do que se ficar sozinho? Será? Será?...

O que será, eu responderia com muita tranqüilidade, não importa agora! Na verdade, nunca importará! A pergunta correta é: Eu quero? Quando aprendermos a responder, com respeito e responsabilidade, essa simples perguntinha, teremos previsto qualquer possibilidade. Sim, porque o amor é uma chance, uma oportunidade; não uma garantia; nunca uma certeza!

Podemos vivê-lo conforme nossa vontade, de acordo com nosso coração ou... passaremos a vida inteira tentando controlar o incontrolável, garantir o incerto! Jamais teremos como saber se o outro está sendo fiel, se o amor que sentimos é correspondido na mesma medida, se vamos sofrer ou se seremos felizes. Jamais saberemos do amanhã ou do outro, porque só podemos saber de nós mesmos. Então, que usemos nossa inteligência, a despeito de todo o medo que isso possa nos fazer sentir. Ou seja, que possamos, de uma vez por todas, abrir mão dessa tentativa inútil de controlar o amor, a vida e o outro e nos concentremos em nós, em nosso coração e em nossos reais objetivos! Descobriremos que nos ocupar com nossos próprios sentimentos já é trabalho para vida inteira. Descobriremos que agir conforme nossa vontade é o bastante para que nos sintamos preenchidos, embora possamos mesmo vir a sofrer simplesmente porque o sofrimento é uma possibilidade tão possível quanto a felicidade! E digo mais: só conseguiremos entrar de fato no coração de alguém, mesmo sem ter certeza disso, quando tivermos a audácia e a coragem de nos entregar ao imprevisível; quando conseguirmos compreender que a segurança é mérito pessoal, interno, sentimento que não se pode ter em relação a ninguém além de nós mesmos.

Portanto, para todas as pessoas que têm me perguntado sobre qual é o segredo para viver o amor sem sentir tanta insegurança, tanto ciúme e tanto medo de sofrer, aproveito este momento para responder: o segredo está em saber se você quer, se você realmente quer! Porque se você quiser e fizer por merecer, agindo com sinceridade, qualquer possibilidade de dor e sofrimento valerá a pena. Porque quando a gente quer de verdade, com o coração, a magia do amor nos faz entender que sofrer faz parte do caminho e, no final das contas, é tudo crescimento, aprendizagem, evolução e, por fim, a tão desejada felicidade. E não que ela esteja no final do caminho ou no final da vida, simplesmente porque ser feliz é isso: entregar-se ao imprevisível e aceitar a dor e a alegria como partes do amor!

E quando penso que essa entrega é realmente difícil, me lembro de uma frase que gosto muito: "Se o seu problema tem solução, relaxe... ele tem solução. E se o seu problema não tem solução, relaxe... ele não tem solução!" É uma frase muito sábia, acredite. Portanto, quando o medo rondar seu coração, não resista! Simplesmente relaxe e se entregue, pois o amor sempre está à espera, pronto para inundar a sua vida!

“Somos a metade de um continente que se rompeu há muito tempo. Vim cruzando os oceanos lentamente, movido a correnteza e vento. Agora que vamos nos unindo, sinto os ajustes de nossos litorais e estremeço onde eu findo, aí é o começo.”

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Clip Los Hermanos - Bom Dia

Mário Bortolotto

Simples



Tava conversando dia desses sobre relacionamentos. Alguém me perguntou quando é que eu percebo que um relacionamento acabou. Eu respondi que é quando você vai assistir a um filme, por exemplo, e não sente falta da pessoa que você ama do seu lado na cadeira do cinema. Quando você ama, sente uma necessidade estranha de dividir os bons momentos com a outra pessoa. Quantas vezes assisti a um filme sozinho e gostei tanto que precisei convidar a mulher que eu amava pra assistir comigo de novo? E gostava de ver como ela reagia àquela cena que tinha me emocionado e tal, sabem como é? Queria ver se ela também se emocionava ou se achava determinada cena engraçada. É você estar num show de rock e pensar: "Eu queria que ela estivesse aqui ouvindo essa música comigo". Quando isso não é mais importante, acho que acabou. Simples, né?

Guimarães Rosa

 
Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.


Lenine




O céu é muito para o sol
Alcança só o que gravita
O tempo é longo pra quem fica
A terra gira para nós dois
Um ano é pouco pra depois
O mundo é largo pra quem fita
A lua é manto para o mar
Querer é tanto para a vida
A lua é longe, o sol é mais
Porque você não acredita?




quinta-feira, 17 de junho de 2010

Lya Luft

Tempo de viver. Se houver um tempo de retorno, eu volto. Subirei, empurrando a alma com meu sangue por labirintos e paradoxos - até inundar novamente o coração. Terei, quem sabe, o mesmo ardor de antigamente.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Vera Americano


Dói cada músculo
Cada fibra
Fio de cabelo
Extremo poro.
Padecem os olhos
E a medula do
Menor pensamento.
Às vezes,
Viver
É a pura dor
Do nosso baú de enigmas.


Chico Cesar - Pétala por pétala

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Carlos Rodrigues Brandão


Se o hoje já não é o ontem
E nem o amanhã é o agora,
Será que algum dia volta
Pra ser de novo outra vez
O que um dia foi embora?
Mas se o hoje já foi o ontem
E sai do agora o amanhã,
Se tempo nasce do tempo
O que será do que à tarde
Já era assim de manhã?

Keep Walking

 
Se a luz de repente falha
e o ar começa a faltar
Lembre que seus pés sabem a saída,
assim como souberam por onde entrar

É com os passos marcando o ritmo
que sua cabeça pode voar mais alto
São os pés firmes no chão
que começam todo o salto.

Por isso deixe que critiquem,
que analisem, que falem.
Tudo o que você precisa fazer é...



quarta-feira, 2 de junho de 2010

Herbert Vianna

 
Atravesso a noite com um verso
Que não se resolve
Na outra mão as flores
Como se flores bastassem
Eu espero
E espero
Não funcionam luzes, telefones
Nada se resolve
Trens parados, carros enguiçados
Aviões no pátio esperam
E esperam
A chave que abre o céu
Da onde caem as palavras
A palavra certa
Que faça o mundo andar.