sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Anne Ventura

E só queria contar a ela, que o sofrimento é ruim sim. Que as lágrimas que se jogam desesperadas ao chão são sempre mais dolorosas que parecem ao resto do mundo. Que tem horas que é preciso gritar, gritar até perder a voz. Que a vida não é assim tão fácil, que está mais praqueles livros que tinham que ler. Que as pessoas no final das contas não são tão boas quanto esperavam que fossem, que era uma regra geral que tendiam a decepcionar, a magoar, a machucar. Que mais cedo ou mais tarde a dor viria, por mais banal que fosse o motivo. Que a vida é aquela conhecida roda da fortuna, que roda, e roda. Que você perde. Que você ganha. Queria lhe dizer da dor, da tempestade, da maldade, do sofrimento, da decepção, do vazio, da morte, do nada. Queria lhe falar tanto, e já tinha lhe dito tanto. Mas o mais importante é embaralhar as cartas, fechar os olhos, confiar que os dedos vão se guiar para o caminho menos ruim, interpretar. Mas não guiar-se cegamente pelas figuras. É necessário abrir os olhos, tirar as lágrimas que embaçam a vista. E assim como se tem olhos para chorar, há a brisa pra secar. O amor é tão doce quanto é amargo, assim como as pessoas, os dias, as vidas. Que caminhem. Sem correr. Sem estagnar. Quanto mais vento em contato, maior a chance de a lágrima evaporar.