quinta-feira, 21 de abril de 2011

MEU AMOR, MEU BEM ,ME AME/Zeca baleiro

Maria Sanz Martins

Porque o desejo é um misto de raiva e encantamento. Corda tensionada que reage como um instrumento. Porque nos falta um pedaço, ou porque somos repletos de buracos e vazios espaços. Porque somos mamíferos cheios de mecanismos, ou dois gêneros magneticamente distintos, que aprendem cedo os jogos do domínio, porque somos semelhantes, com diferenças irritantes, e corpos retesados com todo intento de serem tocados. Porque a carne é sempre mundana. E mesmo que a alma seja elevada, e alimentada da cintura pra cima - a parte insaciável vai seguir morando no sul dos costumes e da geografia. Porque não é fácil dar e receber na mesma medida, porque quando somos o bonzinho, somos o egoísta, e, sobretudo porque somos máquina e maquinista. Porque queremos cheiro de pele sem perfume, cajá de vez com sal de ciúme, preguiça num quarto bagunçado, e um barco Viking que seja remado (a custo de vertigem) contra a maré da monotonia. Porque amar não é escolha que se faça. É visita inesperada, magnífica ventania que revolve tudo e arranca as vontades pelas raízes. Porque queremos ser tocados, dançar de rosto colado e inventar juntos (todos os dias) um novo refrão para a velha melodia - Tsc, é por isso que a gente briga! Depois faz as pazes e recolhe a certeza de que não sabemos, não podemos, nem queremos viver só nessa vida.

Martha Medeiros


Ter um anjo da guarda é ótimo, mas ser um anjo é roubada. Nada substitui as coisas simples da vida, como pegar jacaré no mar, dar uma mordida numa pêra, tomar uma chuveirada ou receber um beijo na boca. É claro que a mortalidade inclui também ser pego desprevenido por um temporal, perder o emprego, ter o cartão do banco extraviado ou arrancar um siso. Viver é correr riscos, é conhecer a dor e o prazer, a solidão e a paixão. Anjos são imunes a tudo isso. Seu único consolo é que não morrem.
Eu prefiro colidir com um poste a não viver.