terça-feira, 25 de maio de 2010

Roland Barthes


O gesto do abraço amoroso parece realizar por um momento, para o sujeito, o sonho de união total com o ser amado.



Franz Kafka



Dei ordem de irem buscar meu cavalo ao estábulo.
O criado não me compreendeu.
Fui eu mesmo ao estábulo, encilhei o cavalo e montei.
Ao longe ouvi o som de uma trombeta, perguntei o que significava aquilo.
Ele de nada sabia, não ouvira nada.
No portão deteve-me, para perguntar:

- Para onde cavalga o senhor?
- Não sei – respondi - Apenas quero ir-me daqui, somente ir-me daqui.
Partir sempre, sair daqui, apenas assim posso alcançar minha meta.
- Conheces então, tua meta? – perguntou ele.

- Sim – respondi eu - Já disse. Sair daqui: esta é minha meta.

Maura de Senna Pereira

A dríade e os dardos

Em verdade te digo que não foi naquela hora
que te pertenci:
quando me tomaste nos teus braços poderosos
e me tiveste sob teus beijos e tua respiração.


Em verdade te digo que não foi naquela hora
mas quando, diante do teu, surgiu meu espírito livre e novo
de rebento inquieto deste século,
e descobrimos todas as comunhões das nossas almas.


Quando conheceste as minhas derrotas
e disseste que eram triunfos.
Quando viste pulsar meu coração nu
e o festejaste.
Quando soubeste que nem sempre
os teus pensamentos são os meus pensamentos
nem os teus caminhos são os meus caminhos.

Mas o amor brilhou como nunca em tua face
e me surpreendeste com a torrente de palavras
de que eu tinha sede
desde a minha primeira hora consciente.


Foi quando te pertenci.