Sou neto das tempestades
que sopram pelos desertos
um destino de saudades.
Com seus nós quase desfeitos
eu trago a garganta aberta
escancarada vazando
uma voz suja de terra
que filtra os dias e as noites.
Na ponta de minha língua
o tempo acaba ou começa?
Brota em mim o som da flauta
brota mais — a flor do sangue —
ao sol que queima sem pena
nesse deserto tão grande.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Elizabeth Hazin
Margarida Antunes
Fala-me do tempo como se não fosse em ti
que todos os dias nascem.
Como se as estações se sucedessem
e não fosse sempre Verão na tua boca.
Como se não crescessem frutos nos teus dedos
e eu não sentisse neles o doce dos dias.
Falam-me do tempo como se nos teus braços
as horas não fossem mais pequenas
e os dias se tecessem mais devagar.
Como se o amor não obedecesse ao vento da vida
E pudesses ficar — para sempre —
a encher o mundo de presentes,
eternos como a natureza.
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