quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Lya Luft


Mais tarde eu saberia que certas experiências se partilham - até mesmo sem palavras – só com gente da mesma raça. O que não significa nem cor nem formato de olho nem tipo de cabelo, mas o indefinível parentesco da alma.

Eduardo Galeano


Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Gladiador - aprendizado

Fernanda Mello

FALE ou ESCREVA. Mas por favor, ETERNIZE. Palavras foram criadas para fotografar o coração. Então por favor, não poupe o mundo da sua essência. Click... Não precisa fazer pose. Deixe acontecer. Se a garganta der nó se a sílaba não sair, ESCREVA. Caneta e lápis na mão, SEJA. Mostre-se. Eu não me apaixono por pessoas. Eu me apaixono por frases. Me alimento de palavras. Verdades, incertezas, medos, doçuras e pequenas mentiras. Não importa. Eu quero provar seus verbos. Seus sujeitos. Seus objetos. Eu quero te ler. Te sublinhar. Te copiar. Te re-ler. Então, por favor, escreva-se. Inscreva-se. Eu quero te pregar num post-it pra nunca mais te esquecer... Palavra vira poesia quando dita com a alma. Por isso, solte-se. Rabisque-se. Eu não vou analisar suas palavras. Eu vou apenas senti-las...



Hilda Hilst


Que as barcaças do tempo me devolvam
A primitiva urna das palavras.
Que me devolvam a ti e o teu rosto
Como desde sempre o conheci: pungente
Mas cintilando de vida, renovado
Como se o sol e o rosto caminhassem
Porque vinha de um a luz do outro.

Que me devolvam a noite, o espaço
De me sentir tão vasta e pertencida
Como se águas e madeiras de todas as barcaças
Se fizessem matéria rediviva, adolescência e mito.

Que eu te devolva a fonte do meu primeiro grito.

domingo, 2 de janeiro de 2011


Isso me fez lembrar aquela história dos dois rabinos que invadem a madrugada discutindo a existência de Deus e, depois de umas taças de bom vinho, concluem que Deus não existe. Já tarde da noite cada um vai para o seu aposento, mas como de costume acordam bem cedo. Um deles, entretanto, não se apresenta para o desjejum. O outro sai à sua procura vasculhando a casa, e logo encontra o amigo no jardim fazendo seu rito matinal. Ele tem a cabeça coberta com o solidéu, os ombros com o tallit, o manto de orações, e em voz alta repete o Shacharit e o Shema.
– O que você está fazendo?
– Minhas orações matinais, responde o outro com naturalidade.
– Mas nós não concluímos que Deus não existe?
– E o que é que Deus tem a ver com isso?

no blog do Ed René