segunda-feira, 30 de junho de 2008

Amor e felicidade

Arthur da Távola

Alcançar o amor talvez exija mais renúncia do que alegria e felicidade.

Nem sei se a felicidade pessoal é compatível com o amor. Por que ligar felicidade ao amor?

O amor é sério demais para almejar a felicidade.

A felicidade está sempre ligada a alguma forma de inconseqüência.

A paixão sim faz a gente feliz. Só transar? Melhor ainda.

Assim como é preciso alguma crueldade para viver, assim como há sempre alguma agressão embrulhada em qualquer vitória, também a felicidade precisa de alguma inconseqüência.

O amor por si, é repleto de “trágicos deveres”.

Por isso o amor não está ligado à felicidade.

Os que assim a perseguem, deveriam desistir de amar.

O amor é um sentimento ligado à lucidez, à renúncia, à compreensões das contradições.

Amar é ser capaz de viver um sentimento que se misture fundo com a vida, se torne corriqueiro, mal percebido, sem grandeza, sem efeitos extraordinários, emoções particulares ou excitantes.

Aqui reside, pois, a complicações do amor.

Só se torna visível quando ameaçado acabar.

Só se o descobre quando se supõe nada mais sentir.

Está onde menos se espera.

É profundo, vital, doador, independente de exaltações.

Flui imperceptível, aparece ao sumir.

Pessoas que separam, mesmo livres uma da outra, sentem um vazio, uma perda, um sentimento de possibilidade perdida.

É preciso muito viver, muito desiludir-se, muito sentir, muito experimentar, muito perder, muito renunciar, para encontrar o próprio amor, guardado não se sabe em que dobra da gente, e muitas vezes nunca descoberto.

Morrer sem descobrir o próprio amor escondido é freqüente. E terrível.

O que estamos fazendo com o amor que está em nós e diariamente trocamos pelas emoções prazenteiras, pela felicidade inconseqüente, pelas alegrias passageiras?

O que estamos fazendo? O que?

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