Não há casal no mundo que não discuta o ciúme, que não vivencie o ciúme. Uns levam o assunto com tranqüilidade, sentem ciúmes civilizados, que não tumultuam a relação. E outros são atormentados por esta praga, não podem olhar para os lados que o parceiro já fica de antena ligada. Uma chateação cotidiana.
Isso é cuidar do relacionamento? Isso é prova de amor? De certo modo, sim, é um zelo, um carinho – desde que as proporções sejam razoáveis. Você não quer perder seu amor para outra pessoa, então fica de olho. Não dá pra dizer que é uma insanidade, você está apenas reafirmando a posse do que julga ser seu.
A sensatez vai pras cucuias quando o ciúme não está mais relacionado ao presente, e sim ao passado de quem você ama, um passado que não foi compartilhado, um passado que você não conhece, um passado onde você não existia, onde você não foi traído, portanto.
Mas uma garota não quer saber de sensatez quando sente uma dor profunda ao ver, por exemplo, fotos do namorado cinco anos atrás, feliz da vida ao lado de amigos e amigas que ela não conhece. Ela sente ciúme dos discos que foram comprados antes da relação começar, sente ciúmes dos presentes que foram recebidos antes, sente ciúmes de roupas que foram compradas sem a opinião dela, sente ciúmes das alegrias que foram vividas bem longe da sua presença. Como você pode acreditar quando ele diz que não consegue se imaginar sendo feliz sem você, se cinco anos atrás ele estava passando férias em Trancoso com um sorriso de orelha a orelha? Algumas pessoas não colocam os pés em lugares onde seu amor foi feliz na companhia de outros. Se ele foi feliz em Trancoso, que Trancoso arda em chamas!
Já não é ciúmes o nome disso. Já nem mesmo é amor.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Ciúmes do passado - Martha Medeiros
Rita Apoena
sábado, 25 de abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Manuel Bandeira
Osho
O amor se relaciona, mas não é relacionamento, que é algo acabado. Ele é como um rio fluindo, interminavelmente. Há flores do amor que só desabrocham após uma longa intimidade. Relacionar-se significa que estamos sempre começando, sempre tentando nos tornar conhecidos. A alegria do amor está na exploração da consciência. Quando investigamos o outro, fazemos o mesmo conosco. Aprofundando-nos no outro, nos aprofundamos em nós mesmos. Tornamo-nos espelhos para o outro e o amor torna-se meditação. Quando mais descobrimos, mais misterioso o outro se torna: o amor é uma aventura constante. Quando estamos apaixonados, a linguagem não é necessária. O amor não escraviza, não é possessivo nem exigente. Ele liberta, permitindo aos amantes voarem alto, em direção a Deus. Quando apreciamos nossa solidão, nos tornamos meditadores. Só quem é capaz de ser feliz sozinho pode contribuir com a felicidade de outro.
terça-feira, 21 de abril de 2009
José Luís Peixoto in Nenhum olhar
E, ali, a superfície inteira do céu não era senão um gesto dela; a aura do sol sobre todo o horizonte da terra não era senão um cabelo dela; os pardais na sua melodia de mil vozes não eram senão o início de um suspiro dela; a distância infinita da planície não era senão a pele suave da ponta de um dedo dela. Pensava, e os seus pensamentos pareciam-lhe mais verdadeiros do que os pensamentos, porque sabia que, nesse verão, iria visitá-la.
Manoel Bandeira in Estrela da vida inteira
Quando de longe te vi
Quando de longe te via
Gostei logo bem de ti
“Como é bonita" , eu dizia
Mas por enganar aquilo que dentro de mim senti
Que dentro de mim sentia
Pensei de mim pra mim
Que a distância que fazia me pareceres assim
Não era distância não
Pois chegou aquele dia em que te apertei a mão
Sem saber o que dizia
E vi que eras mais bonita
Porém muito mais bonita do que para o meu sossego a distância te fazia.
Quanto mais de perto
Mais bonita era o que eu dizia.
Desde então imagino que mais linda te acharia
Mais fresca
Mais desejável
Mais tudo enfim...
Se algum dia...
Dia ou noite que marcasses
Se algum dia me deixasses te ver de mais perto ainda.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Shakespeare
o dia todo vi coisas vulgares
mas quando durmo em sonho te revejo
pondo no escuro luzes estelares,
tu, cuja sombra faz brilhar as sombras,
como podes formar das sombras luzes
no claro dia que de luz assombras
pois tanto brilho no negror produzes?
Como podem meus olhos abençoados
assim te ver brilhar em pleno dia
quando na noite escura deslumbrados
dentro de fundo sono eu já te via?
Meu dia é noite quando estás ausente
e à noite eu vejo o sol se estás presente.