Só quando começou a desmontar a porta do quartinho é que Úrsula se atreveu a lhe perguntar por que o fazia, e ele lhe respondeu com certa amargura: "Já que ninguém quer ir embora, nós iremos sozinhos." Úrsula não se alterou.
- Nós não iremos - disse. - Ficaremos aqui, porque aqui tivemos um filho.
- Ainda não temos um morto - ele disse. - A gente não é de um lugar enquanto não tem um morto enterrado nele.
Úrsula replicou, com uma suave firmeza:
- Se é preciso que eu morra para que vocês fiquem aqui, eu morro.
José Arcadio Buendía não acreditou que fosse tão rígida a vontade de sua mulher. Tratou de seduzi-la com o feitiço da sua fantasia, com a promessa de um mundo prodigioso onde bastava derramar uns líquidos mágicos na terra para que as plantas dessem frutos à vontade do homem, e onde se vendiam a preço de banana toda espécie de aparelhos contra a dor. Mas Úrsula foi insensível à sua clarividência.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Cem anos de solidão
Gabriel Garcia Márquez
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