segunda-feira, 22 de março de 2010

Fabrício Carpinejar



O sexo é uma verdade privada que se torna mentira pública.
Na hora de fazer, a franqueza. Na hora de contar, a distorção.
Há um mito de que qualquer transa atravessa a madrugada. Não conheço guepardo, mas somente maratonista na cama. Ejaculação precoce é o de menos, o domínio é da ejaculação retardada. Não há um amigo que diga que transou quinze minutos. Nunca. São sempre horas e horas de carícias e afagos e preliminares.
Ou todos usam Viagra ou todos mentem.
Não sei se o brasileiro é o melhor amante. Não existe como saber. A única pesquisa de opinião confiável é a feita com Deus após a morte e, até agora, não foram anunciados os resultados. Não há boca-de-urna confiável da intimidade.
Corre sempre o boato de que o prazer se estende ao canto do galo. Eu olho para a cara dos meus colegas e não enxergo nenhuma olheira, nenhuma fraqueza de manhã. São sobrenaturais. Passam a noite fogosamente, não dormem e ainda acordam sem efeitos colaterais do cansaço. Alguma coisa está errada em mim.
Pior que fingir orgasmo é fingir que o orgasmo dura a noite inteira.
Onde anda a modéstia da nudez? A humildade do amor?
O bocejo, por exemplo, é tão romântico, mas é visto como um sinal de agouro e de tédio. Se alguém vacila, logo se pune e engole uma lata de Red Bull. Abafamos a sedução da preguiça. Uma pena; ao bocejar, o corpo se estica e se entrega como num ato erótico. Nada é mais excitante do que estar desarmado, com o rosto limpo, honesto e real.
O sexo precisa de mais religião. Pode parecer blasfêmia, mas pede mais religião e menos academia de ginástica. Sexo virou desempenho. É uma atividade muscular, ao lado do cross over e leg press. Uma demonstração de fôlego. Uma competição de quem aguenta mais. De quem pode mais. Uma rivalidade de bíceps e seios. Estamos mais preocupados com a posição do que com o prazer do outro. Os joelhos e braços são anilhas encaixadas nas barras.
Esquecemos de que o sexo pode ser curto no tempo e intenso na entrega. Já é suficiente meia hora, desde que vivida com a disposição dos detalhes, desde que a respiração seja saboreada e a pálpebra se feche para deixar o lábio enxergar sozinho.
Parece que sexo exige insônia, exaustão física, tortura, infarto. Eu quero viver pelo sexo, não morrer dele.
A noite de núpcias é a mesma conversa fiada. Os convidados e os padrinhos farão insinuações aos casados durante a festa: “Hoje é o dia, hein?” Mas no quarto a verdade será sonolenta. Ao invés de gemidos, roncos.
Depois do casamento, da recepção, da comilança, da arruaça até a luz do sol chegar, das danças e das despedidas dos hábitos de solteiro, como é que o casal vai transar? É desumano. Ou porque os dois estarão embriagados ou porque não se mantêm em pé. O máximo que dá para fazer é uma declaração de intenções.
— Ai, amor, eu queria tanto comemorar.
— Eu também, temos uma vida pela frente.
— Não ficará chateada?
— Claro que não, eu desejava…
— Zzzzzzzzzz.
E ambos entendem que mentir não é tão bom quanto dormir de conchinha.


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