segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Alberto Caeiro

 
Deste modo ou daquele modo, conforme calha ou não calha. Podendo às vezes dizer o que penso, e outras vezes dizendo-o mal e com misturas. Eu vou falando sobre os meus modos sem querer. Como se falar não fosse uma coisa feita de gestos. Como se falar fosse uma coisa que me acontecesse, assim como sentir o sol. Eu procuro dizer o que sinto sem pensar no que sinto. Eu procuro encostar as palavras à idéia. E não precisar de um corredor do pensamento para as palavras. Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado por que lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar. Eu procuro esquecer do que aprendi. Procuro esquecer do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram sentidos. Mostrar minhas emoções verdadeiras. 

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