terça-feira, 1 de março de 2011

José Luis Peixoto


A memória dela a olhar-me. O seu rosto tão bonito da primeira vez que o vira. Dentro de mim, carregava o primeiro lugar em que a vira. Para sempre, carregaria dentro de mim o primeiro lugar em que a vira. A escuridão obsidiante a repetir-se a si própria vezes e vezes. Um espelho de escuridão a reflectir apenas escuridão em todas as direcções. A ausência dela a ser tudo o que não existia. Tudo o que existia era ela não existir. Eu, com a voz do meu pensamento, perguntava onde estás, amor? Perdido, abandonado, perguntava, onde estás, amor? Perguntava ao vazio, à ausência, e o vazio, a ausência, não me respondiam. Os meus olhos abriram-se. Sentia a minha mão a tremer. A noite polia o luto no ar do quarto. Sentia a minha mão a tremer.

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