Patrícia Antoniete
Não me interessa ser feliz de brincadeira, fazer de conta contentamento, ser alegre de mentirinha, de vez em quando, quando as circunstâncias permitem e a falta de juízo se amotina. Não me interessa ver a felicidade por uma fresta de porta, por um buraco de fechadura, abocanhar-lhe uma nesga roubada num final de tarde, aproveitando um descuido da quase sempre alerta razão. Não me serve experimentar os adornos de um feliz de araque que tenham que ser despidos e trancafiados no armário negro assim que a realidade invadir a casa e eu me ver nua e dilacerada de dor e abandono. Não me basta vez por outra desatolar a cabeça de dentro da lama fétida da mediocridade e inspirar goles do ar do que seria viver de verdade, se apaixonar e ser feliz. Não quero o filé, nem o resto. Não me interessa, não me serve, não me basta. Quero a vida até as últimas e - por que não - piores conseqüências, mas a quero inteira e de verdade, para o que der e vier.
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