(...)
se são as palavras as memórias do Amor, então escrevo para lembrar do Amor em
mim. Porque a poesia é um carinho no outro, uma gentileza guardada nos olhos do
amante. E se não é o poeta o tradutor de silêncios e a poesia uma coleção de
possíveis, quem sou eu? Sou homem a viver em cada uma das minhas linhas, mesmo
que nelas jamais me encontrem; e me revelo pelo conjunto das minhas palavras,
mesmo que em cada uma delas eu não possa ser revelado; pois vivo num reino que
do meu saber se empresta pra confessar aquilo que ele mesmo é, ainda que em mim
falte o que nele sobra: o infinito. A poesia vive atrás dos olhos, e que
verdadeiramente nos toca quando sabemos ser as letras apenas o seu reflexo.
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