sexta-feira, 7 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher - 08 de março

Fabrício Carpinejar
Sou desconfiado com o Dia Internacional da Mulher. Como sou cético com o Dia dos Namorados. Nessas datas, esquecemos de pensar para convencionar gestos e gastos. É um cuidado protocolar para não magoar a corrente, a enxurrada de manifestações, os compromissos festivos. Um dia de rosa deslocada dos espinhos. E qual é o espinho? Continuar comparando a mulher com o que o homem faz ou deixa de fazer. A mulher ganhou terreno no trabalho e assume cargos antes dirigidos por homens. A mulher conduz ônibus. A mulher joga futebol. A mulher apita jogos. A mulher comenta esportes. Só falta correr na Fórmula 1? Existe o hábito machista de dizer que a mulher se emancipou ou evoluiu tendo como referência a ocupação dela em atividades ditas masculinas, que na verdade nunca foram masculinas Ser dona de uma empresa e ser dona de um estádio não aumentam a cotação da mulher. Mulher não tem cotação, porém valor. Sempre foi política mesmo quando não podia se candidatar. Não depende de uma cota para ser votada. De uma chance para ser vista. De um amor para ser compreendida. De um emprego para dizer sua opinião. A mulher é incomparável desde sempre. Mania de moldar à mulher por uma realidade masculina. E o que elas fizeram antes dos homens, não conta? E o que os homens fizeram a partir dela, não conta? Não sei, não sei, é uma chatice tremenda falar de gênero quando não somos capazes de mudar a própria rotina intelectual. Mulher tem poder, que a autoridade masculina demorará a entender. Poder e autoridade são distintos. Poder é o que se conquista naturalmente, autoridade é uma adaptação social, provisória e efêmera. Meus filhos não me procuram quando estão doentes. Procuram a mãe. A confiança que emana dela vem do cuidadoso detalhe, a sinfonia corrigida à mão, o abraço que protege e conforta. A mulher oferece a intimidade da percepção, a capacidade periférica de enxergar do lado de dentro para fora. É atenciosa com o que não oferece utilidade. O homem importa-se com o domínio, não com a intimidade. Quantas vezes já vi um homem apresentar orgulhoso sua namorada como uma roupa exclusiva e cara para provocar inveja? A mulher tem a necessidade de ser feliz, o homem parece que tem a obrigação de ser feliz. Felicidade não se herda.

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